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Em tempos de polarização, vídeos “toscofakes” têm (muito) mais alcance do que os deepfakes

Em tempos de polarização, vídeos “toscofakes” têm (muito) mais alcance do que os deepfakes

Apenas nesta semana, duas falas do ex-presidente Lula grosseiramente editadas enganaram muita gente em redes sociais. Movimento acende o alerta para os “toscofakes” que, na prática, são muito mais nocivos do que os temidos deepfakes.

Desde quando começou a brotar “especialista” em fake news mundo afora (não que isso seja, necessariamente, ruim), muita gente começou a falar sobre algo que poderia ser a “grande ameaça” em termos de desinformação: os deepfakes.

Para quem não sabe, o deepfake é um tipo de edição que se utiliza de softwares de machine learning e inteligência artificial para inserir rostos em vídeos com (quase) perfeição. Na teoria, poderia ser, de fato, uma grande ameaça. Na prática, não é isso que está acontecendo.

Em toda história do Boatos.org, um conteúdo deepfake chegou a viralizar a ponto de ter que ser desmentido pela nossa equipe. Trata-se de um vídeo de conteúdo adulto em que o rosto de Greta Thunberg foi inserido no corpo de uma atriz. Inicialmente, o conteúdo (criado em um site “especializado” neste tipo de edição) não tinha cunho político. Porém, no Brasil ele adquiriu este caráter.

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Muito mais danoso do que os deepfakes (que demandam tempo e, diga-se de passagem, talento para que fiquem convincentes) são o que vamos chamar de “toscofakes”. Trata-se da criação de um discurso com trechos picotados de uma fala.

Este tipo de edição recebeu este apelido da nossa equipe porque, de fato, o resultado final é de uma qualidade estética sofrível (ao contrário, por exemplo, de deepfakes bem feitas). E aí está o ponto: em tempos de criação de desinformação em escala industrial, quantidade pesa muito mais do que qualidade.

A prova disso está no número de “toscofakes” que tivemos que desmentir em nossa história. Apenas na última semana, fizemos isso em duas oportunidades. Em uma delas, uma entrevista de Lula a um veículo de imprensa da China foi cortado para dar impressão de que ele havia afirmado que iria transformar o Brasil em “China Comunista”.

O outro é mais emblemático ainda. Um vídeo de um evento que Lula participou no ano passado na Bahia foi extremamente editado para que a frase “eu me encontrei com o demônio” ganhasse destaque. Na realidade, Lula estava falando de acusações que bolsonaristas fariam contra ele (errado não estava).

Errado está quem pensa que esse tipo de desinformação só atinge Lula. Apesar de, quantitativamente, o ex-presidente ser o maior alvo dos toscofakes (há outros casos como esse, esse e esse), também há registro de falas picotadas de Bolsonaro. No ano passado, por exemplo, uma notícia falsa apontava que Bolsonaro teria dito que Michelle, sua esposa, havia sido presa por tráfico (o que não ocorreu e é falso).

Ou seja: em tempos de eleições e possíveis debates sobre “deepfakes”, inteligência artificial e toda essa parafernália tecnológica, eu ficaria, se fosse você, mais preocupado com esses “toscofakes”. Até porque não é preciso nem um trabalho ser bem feito para que uma fake news que reforce uma ideia pré-concebida faça sucesso.

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Destaques nas redes sociais

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 7 mil notícias falsas

Desde o início de 2021, o Boatos.org promove a seção “A Semana em Fakes”, com análises sobre assuntos relacionados a fake news. O conteúdo é aberto para republicação em veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Jorn., Portal MetrópolesPortal T5, Conexão Marília e O Anhanguera (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.

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