O movimento de grupos que buscam “uma morte por vacina” para chamar de sua enquanto ignoram mortes por Covid-19 é o tema do A Semana em Fakes desta semana, com Edgard Matsuki, editor do Boatos.org.
Desde dezembro, estamos alertando no A Semana em Fakes (você pode ver aqui, aqui e aqui) que grupos antivacinas tentaram fincar a última trincheira contra imunizantes. Felizmente, podemos falar (com orgulho) que negacionistas (famosos ou não) perderam mais essa batalha contra a ciência.
Com mais esse revés no Brasil, grupos antivacinas têm buscado, incessantemente, por mortes e problemas de saúde em crianças para poder expor e arranjar uma arma de ataque contra imunizantes. Esse movimento se intensificou nesta semana, a primeira de aplicação de vacinas em crianças de 5 a 11 anos.
Na última semana, o Boatos.org desmentiu três fake news novas que tentaram atribuir mortes e supostas reações adversas das vacinas em crianças. Uma delas, de forma genérica, apontava falsamente que “60 crianças estavam passando mal na Paraíba” por causa dos imunizantes.
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Um segundo boato apontava para um “menino que teria morrido por causa da vacina na Paraíba”. O elemento comprobatório da história seria um suposto vídeo de um pai indignado. Detalhe: não houve a tal morte e o vídeo era de 2019.
Houve, ainda, uma terceira situação e queremos nos aprofundar neste caso. No dia 19 de janeiro, uma menina de 10 anos, da cidade de Lençóis Paulista, se imunizou contra a Covid-19. No mesmo dia, ela teve um mal súbito e teve que ser internada após sofrer uma parada cardíaca.
Sem qualquer prova, grupos antivacinas começam a expor a identidade da criança e apontavam que a ocorrência seria um evento adverso da vacinação. No dia seguinte, a verdade foi revelada. A ocorrência (que, felizmente, não resultou na morte da crianças) foi causa por uma doença na menina e não por causa das vacinas.
Esse modus operandi de expor crianças (em alguns casos sem autorização dos pais) para espalhar histórias sobre falsas sobre “efeitos terríveis” das vacinas contra Covid-19 tem sido recorrente. Não é preciso de muito para ser bombardeado por rostos de crianças fofas que teriam sido vítimas das vacinas. É claro que esse movimento não perpassa por humanidade ou compaixão. Tudo é uma estratégia (das mais apelativas em uma guerra comunicacional).
A prova disso é que não se vê nenhum afinco para dar “rosto e nome” a crianças e adolescentes que morreram por Covid-19. E casos não faltam. Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre cinco e 11 anos morreram por conta da Covid-19. Não vemos nenhuma menção a isso em mensagens impulsionadas automaticamente no WhatsApp, mensagens de deputados (ou deputadas) que têm se utilizado de todas as suas energias para atacar as vacinas ou vídeos de “médicos e influencers” que defendem remédios sem eficácia contra Covid-19.
Ao contrário. O que vemos são declarações (inclusive do presidente da República) minimizando as mortes de crianças e fake news que apontam que elas são imunes à doença e que não precisariam ser vacinadas (o que os números mostram que não é real).
Em suma, o quadro é essa. Negacionistas continuam negando a gravidade da Covid-19 e muitos deles (os antivacinas) clamam por uma morte de criança por conta dos imunizantes (o que não ocorreu ainda no Brasil) para poder chamar de sua e fazer um estardalhaço. Quanto as centenas que morreram por Covid? Resta apenas um “lamento muito”.
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Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 7 mil notícias falsas
Desde o início de 2021, o Boatos.org promove a seção “A Semana em Fakes”, com análises sobre assuntos relacionados a fake news. O conteúdo é aberto para republicação em veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Jorn., Portal Metrópoles, Portal T5, Conexão Marília e O Anhanguera (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.