Paxlovid, da Pfizer, é um remédio similar à ivermectina #boato

Boato – O remédio para tratamento da Covid-19 lançado pela Pfizer, o Paxlovid, é similar à ivermectina porque tem o mesmo mecanismo de ação contra o coronavírus.

Há muitos anos os medicamentos genéricos fizeram com que os preços deste tipo de produto despencassem no Brasil. O hábito de se perguntar por medicamentos com fórmulas similares é comum por aqui. E, de acordo com uma mensagem, já temos um “genérico” para combater a Covid-19. Trata-se (olha só) da ivermectina (sim, ela).

Uma mensagem que circula online aponta que o Paxlovid, novo medicamento lançado pela Pfizer para tratamento da Covid-19 (que ainda não está disponível no Brasil), seria um remédio similar à ivermectina. A conclusão se deu porque os dois remédios teriam ação similar contra o vírus e preços distintos. Leia o texto que circula por aí:

Adorei saber que o novo medicamento da Pfizer pra tratamento precoce da COVID, tem o mesmíssimo mecanismo de ação da ivermectina (inibidor de protease 3CL). Diferenças: Ivermectina – 5 pila. Paxlovid – 530 dólares.

Paxlovid, da Pfizer, é um remédio similar à ivermectina?

A mensagem, é claro, se espalhou com todas as forças entre as pessoas que defendem o uso da ivermectina (que, frisa-se, não tem eficácia contra a Covid-19). Só que é falsa a premissa de que o Paxlovid e a ivermectina são similares. Já falamos sobre isso em 2021. Por isso, relembre o que escrevemos sobre o assunto (na época, o remédio da Pfizer sequer tinha nome):

Na realidade, a fake news é uma nova versão de uma fake news já desmentida no Boatos.org em maio deste ano. Na época, era dito o remédio (que ainda não tinha nome e era chamado apenas de PF-07321332) era feito à base de hidroxicloroquina. Veja o que escrevemos sobre o remédio em questão:

Na realidade, o antiviral denominado PF-07321332 é um inibidor de protease que impede a replicação do SARS-CoV-2 nas células. Os chamados inibidores de protease são utilizados há algum tempo nos tratamentos contra o HIV e o vírus da hepatite C. Por outro lado, a cloroquina é amplamente usada no tratamento contra a malária, que é uma doença infecciosa causada por protozoários parasitários (e não vírus), sendo considerada um antimalárico (e não possui ação antiviral).

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Além disso, ainda existe uma questão ética em relação ao público. Se a Pfizer realmente fosse utilizar a cloroquina como princípio ativo, a empresa seria obrigada a expressar o uso da substância na bula do medicamento. Isso porque cada país possui leis específicas sobre rotulagem e bula de medicamentos (como no Brasil, por meio da Anvisa). Dessa forma, a empresa seria obrigada a apontar a presença da substância na bula do remédio.

Por fim, mas não menos importante, em março de 2021, a Pfizer anunciou o início de um novo estudo para investigar o potencial de tratamento contra a Covid-19 do tal antiviral oral. E certamente o investimento para o desenvolvimento da pesquisa não deve ter sido barato. Com toda certeza, seria muito mais fácil usar um remédio que já existe do que investir em pesquisa e novos estudos (ainda mais se tratando da cloroquina e depois do fracasso de diversas pesquisas envolvendo a substância e o tratamento contra a Covid-19).

O que falamos sobre cloroquina se aplica à ivermectina. Não faz sentido a Pfizer não anunciar a substância se ela tivesse no medicamento ou mesmo gastar com desenvolvimento de um novo remédio quando já há um disponível. Porém, a coisa não para por aí. Nos últimos dias, a informação sobre a Pfizer “lançar a ivermectina” também foi desmentida em inglês. A informação falsa foi desmentida pelos sites Full Fact, pelo serviço de checagem da Reuters, da AP e pelo site Politifact.

O Full Fact apontou que o fato de o remédio ser inibidor de protease (como ocorre com a ivermectina para parasitas) não significa que ele é “feito de ivermectina” e um médico explicou que a estrutura química da ivermectina é “completamente diferente” da do remédio da Pfizer.

A informação foi endossada por um especialista ouvido pela Reuters que ressaltou que o PF-07321332 é um “antiviral de ação direta” a Sars-Cov-2 enquanto a ivermectina tem mecanismos múltiplos de ação nas células. A informação foi reforçada pela própria Pfizer. Informações similares foram apontadas pelos outros sites que fizeram o desmentido.

É importante citar, também, que há um “detalhezinho” que difere o Paxlovid e a ivermectina. O antiparasitário não funciona contra a Covid-19. O antiviral funciona. Simples assim.

Resumindo: é falsa a informação que aponta que o Paxlovid é similar à ivermectina. Trata-se de uma nova versão de um boato que já foi desmentido no Boatos.org no ano passado.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.

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Edgard Matsuki

Jornalista e caçador de falcatruas na internet

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