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Bolsonaro vai levar crianças da escola para a maçonaria em troca de financiamento #boato

Bolsonaro vai levar crianças da escola para a maçonaria em troca de financiamento, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Em troca de financiamento, Bolsonaro vai deixar maçonaria entrar em escolas e aliciar crianças para sua seita a partir de 2023. 

Sem dúvida alguma, as eleições de 2022 estão sendo pautadas, principalmente, pela religião. Em meio a projetos e propostas nas áreas de saúde, economia e infraestrutura, muitas perguntas e curiosidades sobre as crenças dos candidatos.

No mundo das fake news, a situação não é diferente. Nos últimos dias, a internet foi inundada por histórias falsas sobre políticos e suas supostas religiões, causando uma verdadeira confusão.

E o cenário não mudou. De acordo com uma história que está circulando nas redes sociais, Bolsonaro teria feito uma aliança com a maçonaria. Segundo a publicação, em troca de financiamento, Bolsonaro concederia cargos e levaria a maçonaria para crianças na escola por meio de livros e símbolos disfarçados, em um projeto chamado Obra de Jabulon. Ainda segundo a história, desde 2018, a maçonaria estaria “testando” modelos pedagógicos para implementar nas redes de ensino, com o aval do Ministério da Educação, que consiste em fazer os jovens se revoltarem contra os pais. Confira:

Versão 1: “A maçonaria está tirando crianças das salas de aula e levando para seus templos sem autorização dos pais. Esse aliciamento faz parte de um projeto para implantar a doutrinação maçom em toda a rede de ensino com a ajuda do governo. Recentemente, o Brasil descobriu a aliança entre Jair Bolsonaro e os maçons. Mas o que está por trás disso? Tudo começou em 2018, quando Bolsonaro passou a receber apoio financeiro da maçonaria para sua campanha eleitoral à presidência. Em troca, ele se com um projeto de poder que inclui levar membros da maçonaria ao governo. Dois grandes exemplos são o vice-presidente Hamilton Mourão e Cássio Nunes Marques, indicado a ministro do STF por Bolsonaro. Para 2023, em troca do financiamento da campanha, os membros da maçonaria querem mais. Eles planejam instituir o que chamam de a obra de Jabulon, o plano começará nas escolas indo do ensino infantil ao ensino médio. A doutrinação acontecerá meio de livros didáticos, símbolos e rituais disfarçados de um ensino moral e cívico. Desde 2018, diversas lojas da maçonaria estão testando um novo modelo pedagógico que pretendem implantar em toda a rede de ensino. Com o aval do Ministério da Educação, a doutrinação consiste em uma lavagem cerebral que fará com que filhos se voltem contra os pais. Algo parecido já acontece na Igreja Arautos do Evangelho, instituição que vem sendo investigada por afastar jovens de suas famílias. Se você é cristão, converse com sua família e seus amigos. Acorde para a verdade sobre esse plano que está em curso e que poderá triunfar com a ajuda de Jair Messias Bolsonaro”. Versão 2: “O Governo maçônico travestido de evangélico. Aulas cívica nas escolas a maçonaria na sociedade começando com influências nas crianças”.

Bolsonaro vai levar crianças da escola para a maçonaria em troca de financiamento?

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A informação viralizou nas redes sociais, em especial, no Facebook e deixou muitos seguidores de Bolsonaro revoltados. Apesar disso, a história não é verdadeira. A explicação fica por conta da falta de provas e de lógica da história.

Como lembramos anteriormente, informações falsas envolvendo os candidatos das eleições de 2022 e o tema da religião estão pipocando na internet. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, como a que dizia que Bolsonaro planejaria acabar com o feriado do dia 12 de outubro (Dia de Nossa Senhora Aparecida). Também a que indicava que Lula teria dito que vai vencer Bolsonaro com ajuda de Xangô e nem Jesus vai lhe parar e, por fim, a que apontava que Bolsonaro teria dito, em templo da maçonaria, que vai entregar o Brasil para satanás caso seja eleito.

Para começo de história, em geral, as fake news sobre religião fazem uma grande confusão e carregam um enorme preconceito, seja em torno da maçonaria, seja em torno de religiões de matriz africana (como o candomblé e a umbanda). Depois de incitarem o medo, associando outras crenças com o satanismo ou com algo ruim, apontam o cristianismo como única verdade e caminho possível. Entretanto, é sempre bom lembrar que a liberdade de culto é garantida desde 1940, pelo Código Penal Brasileiro. Ela foi reafirmada na Constituição Federal de 1988 e hoje existem inúmeros dispositivos que garantem a prática dos mais variados cultos (e punições contra aqueles que não respeitarem a lei). A grande verdade é que toda essa onda de desinformação sobre religiões não passa de preconceito que pretende colocar o cristianismo como única crença possível. E outra grande verdade é que é possível exercer sua fé sem se importar ou atacar outras religiões.

Se isso não fosse suficiente, a maçonaria sequer é uma religião. Na realidade, trata-se de uma irmandade filosófica, com reuniões regulares, onde os membros discutem sobre questões sociais e criam ou financiam projetos para auxiliar pessoas em situações de vulnerabilidade. A irmandade possui poucos membros (algo em torno de 6 milhões pessoas ao redor do mundo), homens, que geralmente usam codinomes e, no geral, têm alto poder aquisitivo. Isso fez com que, por muito tempo, a maçonaria fosse retratada em filmes e livros como uma seita maligna, misteriosa e conspiratória. Mas não é nada disso. Esses grupos existem há bastante tempo e, ao longo dos anos, a irmandade se ampliou e grupos femininos também foram criados. Elas funcionam da mesma forma, com reuniões regulares e trabalhos sociais.

O preconceito contra a maçonaria começou há algum tempo, no século XVIII, quando a Igreja Católica proibiu que seus fiéis fizessem parte de grupos maçônicos. Ação que foi reiterada em 1985, pelo Vaticano. Isso pode ser explicado pelo desejo da maçonaria de afastar o ensino da Igreja. No século XIX, no Brasil, a maçonaria trabalhava para afastar o ensino jesuíta das cidades e do interior do Brasil, porque acreditava que o ensino religioso poderia afastar o pensamento científico e racional. Foi aí que a irmandade filosófica começou a ser ainda mais perseguida e taxada como seita maligna.

Ao procurar por mais informações sobre o vídeo da história de hoje ou sobre as acusações feitas nela, não encontramos nada em fontes confiáveis. Como o ônus é de quem acusa, a história de hoje carece de provas.

Além disso, as acusações não fazem lá muito sentido. Primeiro, porque a maçonaria não começou em 2018. Na verdade, ela existe desde a Idade Média. De acordo com um estudo da USP, todos os grandes influentes da Primeira República eram maçons. O próprio Dom Pedro I e Marechal Deodoro da Fonseca eram maçons. Em 2019, Geraldo Alckmin também foi fotografado ao lado de maçons e fez uma palestra em uma loja da maçonaria.

Por fim, a acusação de que Bolsonaro quer levar as escolas para a maçonaria não faz o menor sentido. Ao contrário das religiões do tipo “crescei e multiplicai”, a maçonaria não trabalha com essa ideia de expansão a todo custo e se autodenomina como uma “sociedade discreta”. Para se tornar um maçom, além de preencher diversos requisitos, a pessoa precisa passar por uma sindicância e ser aceito. Logo, a ideia de “aliciar crianças na escola” é inútil e não faz sentido.

Em resumo: a história que diz que Bolsonaro vai entregar crianças e escolas para a maçonaria em troca de financiamento é falsa! O vídeo usado como prova, além de não provar nada, faz diversas acusações que não se sustentam. Primeiro, a maçonaria não é uma religião e sim uma sociedade ou irmandade filosófica, onde homens ricos se reúnem para discutir questões sociais e ajudar pessoas em situações de vulnerabilidade. Além disso, a maçonaria é uma sociedade discreta e a entrada de um novo membro passa por aprovação de uma sindicância (e a pessoa precisa preencher diversos requisitos). Dessa forma, a história de recrutar crianças em escolas não faz o menor sentido. Tudo isso aliado à falta de provas (afinal, o ônus da prova é de quem acusa) mostra que a história não passa de balela e preconceito!

Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo siteFacebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.

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