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Doria obriga Samu a atestar mortes por outras doenças como se fossem por coronavírus em São Paulo #boato

Doria obriga Samu a atestar mortes como se fossem por coronavírus em São Paulo, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Foi descoberto um esquema do governador João Doria para inflar o número de mortos por Covid-19 em São Paulo. está obrigando o Samu a atestar mortes naturais como se fossem por coronavírus. 

Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro contrário à quarentena e minimizando a propagação do vírus no país, os debates na internet envolvendo as medidas dos governos para conter a contaminação ficaram acirrados e, como era de esperar, trazendo à tona assuntos políticos.

Recentemente, começou a circular no Facebook uma história de que o governador de São Paulo, João Dória, estaria obrigando o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) a atestar mortes naturais como se fossem por coronavírus no estado.

A medida supostamente consta no decreto nº 64.880 do governo, publicado na sexta-feira (20/03), e teria o intuito, segundo a postagem que está sendo compartilhada, de aproveitamento político contra o presidente Jair Bolsonaro, a fim de inflar os casos da doença no Brasil e, desta forma, contrariar o discurso presidencial que foi ao ar na última semana. Leia algumas versões da história, que viralizou em redes sociais e sites favoráveis a Bolsonaro:

Vídeo: é falso que viúva de Eduardo Campos, Heloísa, escreveu texto sobre Lula

Versão 1: *Denúncia grave*. Descoberto um esquema do Dória para inflar os números de mortes por coronavírus para aproveitamento político contra o presidente Bolsonaro. Médicos do SAMU estariam sendo obrigados a atestar como Covid19 mortes naturais e sem causa determinada. Mais uma atitude criminosa do João Dória.

*GRAVISSIMO! DECRETO 64.880 DE SÃO PAULO.* Desse jeito, até cara que morre de picada de abelha, se tiver com o vírus chinês, vao atestar que foi morte por Covid19!!!! Não vai se morrer por mais nada no Brasil desse jeito. Justo no Estado de Doriana. São Paulo. Há informações de que no Piauí também estão inflando os números estatísticos do Covid19. É bom averiguar essa informação. Denunciem ao CRM e ao Ministério da Saúde qualquer falsificação de estatísticas sobre os casos do coronavirus.

Versão 2: Perdeu a credibilidade: se um meteoro atingir SP e 100 pessoas morrerem, constará ‘Covid-19’ na certidão de óbito. Versão 3: Falecimentos por infarto, derrame, aneurisma, etc… serão classificados como causa indeterminada ou Covid-19. 

Doria está obrigando Samu a atestar mortes por outras doenças como se fossem por coronavírus em São Paulo #boato?

Obviamente, a notícia de uma medida com esta finalidade deixou muitos cidadãos perplexos, principalmente aqueles favoráveis ao governo Bolsonaro. Mas será mesmo que Dória está obrigando o Samu a atestar mortes naturais como se fossem por coronavírus em São Paulo? A resposta é não! E o porquê você confere a seguir.

Para começar, as duas mensagens da publicação que está sendo compartilhada com a acusação são vagas (não contam mais sobre o plano), alarmistas e possuem erros de português. Além disso, governadores como Doria (São Paulo), Wilson Witzel (Rio de Janeiro) e Ronaldo Caiado (Goiás) têm sido alvos de fake news na internet depois que bateram de frente com Bolsonaro.

Aqui no Boatos.org, nós até já desmentimos alguns boatos relacionados à falsa “rixa” dos governadores com o presidente, como você deve se lembrar do caso que dizia que Doria estaria pagando R$ 500 mil à jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, para falar mal de Bolsonaro e o de que Ronaldo Caiado supostamente teria sido cercado pelo povo de Goiás após anunciar que rompeu com Bolsonaro.

Ao analisar o conteúdo, descobrimos que, na realidade, o que está ocorrendo é uma distorção de um decreto emitido pelo governo de São Paulo. Inicialmente, o decreto de nº 64.880, publicado em 20 de março de 2020, não fala nada sobre o Samu dar laudos de mortes, como diz a postagem. A medida, na verdade, fala em preservar a integridade física dos médicos, enfermeiros e demais profissionais das equipes de saúde dos Serviços de Verificação de Óbitos (SVOs) e Instituto Médico Legal (IML) durante as atividades de manejo de corpos e necropsias no contexto da pandemia de coronavírus.

Ou, seja, a ideia é, com isso, evitar mais casos de contágio entre funcionários da área de saúde e, também, à sociedade paulista. De acordo com uma matéria da Folha de S. Paulo, entretanto, o decreto serviu como base para uma orientação da Coordenação do Samu para que, em algum momento ainda não definido, os médicos do serviço de atendimento móvel passem a declarar mortes naturais, indefinidas ou suspeitas de Covid-19 ocorridas fora do ambiente hospitalar, o que será feito por meio de um teste específico.

Na prática, se a orientação entrar mesmo em vigor, quer dizer que os médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Grau (Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências) deverão examinar os corpos, fazer o teste para o Covid-19 e emitir uma autópsia verbal, se necessário, alegando causa da morte como “indefinida”, “natural” ou “por suspeita de coronavírus”, evitando, assim, exames invasivos que possam colocar em risco a saúde dos profissionais dos Serviços de Verificação de Óbitos. Em caso de confirmação de óbito por coronavírus, o atestado será alterado para morte por Covid-19.

Críticas e elogios à parte (e não estamos aqui para apontar se ela é boa ou ruim), o fato é que não há como comprovar, com base na matéria, que as mortes por infarto serão classificadas como Covid-19 ou que se trata de um plano de João Doria para contradizer o presidente Bolsonaro. Nota-se uma diferença abissal entre o conteúdo publicado na Folha de S.Paulo e os “textos bolsonaristas” que estão circulando por aí.

Ao procurarmos por mais detalhes (além da matéria da Folha de S. Paulo) que pudessem embasar a denúncia envolvendo Doria e o Samu, nada encontramos. Ou seja, os textos fazem acusações fortes, mas não apresentam provas. Ao contrário disso, achamos matérias que apontam que o temor é pela subnotificação de casos de coronavírus, e não o “aumento de registros”, que, se fosse verdadeira a acusação, seria a finalidade do governador de São Paulo para contradizer Bolsonaro.

Aliás, de acordo com essas matérias, a subnotificação tem sido um dos maiores problemas enfrentados pelo governo brasileiro para combater o Covid-19 no país. Além da limitação de testagem (falta de recursos para a realizar testes no sistema público de saúde), há também falhas nas estatísticas divulgadas pelo Ministério da Saúde.

Então, vamos racionar: há um decreto de Doria? Sim. Ele fala para médicos do Samu atestarem mortes naturais como por coronavírus? Não. Há uma orientação para médicos do Samu indicarem mortes suspeitas por Covid-19? Sim. Há uma orientação para que eles atestem outras mortes como se fosse por Covid-19? Não. A matéria da Folha fala algo sobre isso? Não. Os textos que circulam online provam alguma coisa? Não. Há alguma prova contra Doria? Não.

Resumindo: Apesar de existir um plano (ainda não posto em prática ou anunciado oficialmente) para que médicos do Samu notifiquem, a partir de testes, mortes suspeitas por coronavírus, não há provas de que isso seja um plano do governador João Doria contra Bolsonaro ou que infartos serão notificados como Covid-19.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164. 

Confira a lista de todas as fake news sobre o novo coronavírus

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