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China comprou todo estoque de soja do Brasil para prejudicar Bolsonaro #boato

China comprou todo estoque de soja do Brasil para prejudicar Bolsonaro, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – A China está com um plano maléfico para derrubar o presidente Jair Bolsonaro: vai comprar toda a soja do Brasil para que os estoques acabem, os preços aumentem, os caminhoneiros fiquem sem frete e o povo eleja Lula em 2022.

Há mais ou menos um mês, o Boatos.org tratou sobre uma suposta ameaça de greve dos caminhoneiros do Brasil em agosto de 2020. No texto, falamos que a “data limite” para a greve seria setembro de 2020. Chegamos à data limite, não tivemos greve e, de acordo com o próprio governo, a ameaça (de um grupo muito pequeno) tem apenas “motivação política”.

Justamente em meio a esses grupos está circulando uma informação com o intuito de “esquentar a greve”. De acordo com mensagens que circulam online, foi descoberta uma estratégia da China para derrubar Bolsonaro. A estratégia perpassaria por “comprar toda a soja do Brasil” para que os preços aumentem por aqui, o povo se revolte e eleja Lula em 2022. Algumas das versões da mensagem apontam, ainda, que os fretes dos caminhoneiros acabariam, por causa disso, em 90 dias. Leia algumas das mensagens que circulam por aí:

Versão 1: A China já está provocando danos ao Brasil. Os caras compraram toda a safra de soja e arroz até 2021, e vão provocar desabastecimento no país. Os preços já estão subindo. Versão 2: Isto é uma TRAIÇÃO do Doria e outros governadores, no intuito de enfraquecer o Governo Bolsonaro. Ainda vamos passar sérias atribulações por conta desses chineses em nosso solo, comprando tudo. O Trump, esperto, já colocou a China em sua lista negra, e nos EUA, ela não se cria Versão 3: Esta alta do arroz e óleo de soja é tática da China para desestabilizar o governo Bolsonaro. Estão armando contra o Brasil

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Versão 4: A China compro todo os estoques de arroz e soja , eles que fabricam o óleo de soja e colocam o preço que eles quiseres, , os governadores e prefeitos venderam para os chineses .., as maiores distribuidoras de alimentos …com isto querem aumentar e quebrar o auxilio emergencial , muita coisa vai aumentar ainda …é o jogo sujo para quebrar a economia e colocar culpa no Bolsonaro . com isto e o povo revoltado com o Presidente, o Congresso coloca o impeachment, tirando Bolsonaro, entra Lula como salvador da Pátria …voltando tudo a roubalheira de novo ….Por isso vai ter uma greve dos caminhoneiros ..dia 8….Tudo estudado pela China , Congresso, e STF … Plano perfeito

China comprou todo estoque de soja do Brasil para prejudicar Bolsonaro?

O que não faltaram foram pessoas falando sobre o tal plano maléfico da China para derrubar Bolsonaro. A grande questão é que a informação que está circulando online, além de carecer de quaisquer provas, não tem lá muita lógica.

O caráter da mensagem já nos chamou atenção. Isso porque ela tem características de boatos como ser vaga, alarmista, ter erros de português e não citar fontes confiáveis. Além disso, o que não tem faltado são teorias da conspiração falsas relacionadas à China. Só para citar alguns exemplos: teve acusações de envenenamento em massa, chips na vacina contra Covid-19 e compra em massa de empresas do Brasil (junto com Doria).

Assim como nos casos citados, a informação sobre o plano maléfico não passa de uma tese falsa baseada em algo real. A parte real é que a China tem, de fato, comprado muita soja do Brasil. De acordo com essa matéria do site do Canal Rural, a China comprou US$ 24 bilhões entre janeiro e julho da soja brasileira.

Como explica a matéria (e tantas outras), a compra em massa nada tem a ver com um plano para derrubar Bolsonaro. Na realidade, a China passou a comprar mais soja do Brasil por três motivos. 1) Valorização do yuan (moeda da China) no mercado internacional. 2) Pandemia da Covid-19 e guerra comercial com os EUA, que fizeram o país asiático temer por um desabastecimento. 3) A supersafra de soja do Brasil em 2020.

É fato que a compra da China impactou na queda da oferta do produto no Brasil e alta de preços. Tanto que, em agosto, o volume exportado do Brasil para a China diminui. Porém, isso não significa, necessariamente, que o Bolsonaro será prejudicado. Há três motivos para isso.

O primeiro é que a exportação em massa do produto para a China ajudou a queda recorde do PIB brasileiro (9,7% no segundo trimestre). Por causa da compra da China (entre outras coisas), o agronegócio foi o único setor que não teve queda no PIB no trimestre.

O segundo motivo é que a compra da produção brasileira até 2022 é uma boa para a China e para produtores brasileiros. Além de garantir um lucro por produção em um momento de crise, os produtores conseguem se beneficiar da alta recente do dólar (que, de acordo com indicadores econômicos, deve cair no futuro). Ou seja: não é só a China que quer comprar. O Brasil também quer vender.

O terceiro motivo é que Bolsonaro quer vender para a China. Isso ficou explícito durante encontro dos chefes dos Brics em 2019 e na crise gerada por acusações de Eduardo Bolsonaro contra o governo chinês em março deste ano. Na ocasião, aliados do presidente o pressionaram a retomar o diálogo para que as exportações não fossem prejudicadas.

Para terminar, tem mais uma informação sem lógica: sobre os caminhoneiros não terem mais trabalho por causa das exportações para a China. Vamos pensar: a soja vai para a China em navios cargueiros. Antes disso, tem que sair do produtor e ir para os grandes portos. Quem leva? Os caminhoneiros, certo. Então, se aumentar a exportação, as cargas também aumentarão.

Resumindo: o aumento de exportações de soja para a China, ao contrário do que aponta mensagens que circulam online, nada tem a ver com um plano para derrubar Bolsonaro. No meio desses números, é possível ver chineses felizes, produtores (muitos aliados a Bolsonaro) felizes e o presidente feliz. No final, são só negócios.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164. 

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