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Ivermectina ajudou África a controlar pandemia de Covid-19 no continente #boato

Ivermectina ajudou África a controlar pandemia de Covid-19 no continente, diz boato (Foto: Reprodução/WhatsApp)

Boato – Uso de Ivermectina na África fez com que o continente controlasse a pandemia da Covid-19 e registrasse poucas mortes.

Definitivamente, a pandemia da Covid-19 está sendo marcada por uma corrida incessante em busca de tratamentos eficazes ou uma cura para a doença. Nesse meio tempo, diversos medicamentos foram objetos de estudos. A cada novo potencial, uma nova esperança.

Junto com a esperança, também a decepção. Muitos estudos, em fase avançada, constataram que a maior parte dos medicamentos apresentados como grande potencial de tratamento, na verdade, não eram tão eficazes ou seguros assim.

Apesar disso, mesmo com a refutação da ciência, algumas substâncias caíram na graça do povo (e também de governantes). Exemplo disso é a ivermectina. Mesmo sem comprovação científica, o medicamento continua sendo usado por muita gente. Nos últimos dias, entretanto, uma história trouxe esperança para muitas pessoas. De acordo com uma publicação, a ivermectina teria ajudado a África a controlar a pandemia da Covid-19 na região. Uma imagem que acompanha a publicação mostraria que os países que, supostamente, fazem uso da ivermectina teria, registrado pouquíssimas mortes. Confira:

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“Paradoxo Africano. Em tempo, o FDA (rigorosa agência americana) acaba de confirmar a eficácia da Ivermectina in vitro, ou seja, em laboratório. O teste in vivo, ou seja, em pessoas, ainda irá demorar meses. Mas, antes disso, vejam o que acontece hoje na África (2 de junho de 2020). Nanímia: População: 30 milhões. Motos por covid: 0. Toma ivermectina para tratamento de filariose anualmente. Botswana: População: 2.3 milhões. Mortos por covid: 1. Toma ivermectina. África do Sul: País mais rico da região. População: 57.7 milhões. Mortes por convid: 2.750. Não toma ivermectina. Filariose erradicada. Lesotho (paupérrimo: População: 3 milhões. Mortos por covid: 0. Toma ivermectina. Moçambique: População: 30 milhões. Mortes por covid: 6. Toma ivermectina anualmente para combate à filariose. Mesmo considerando que há uma certa subnotificação (o que para óbitos é muito difícil, os números carecem de uma explicação”.

Ivermectina ajudou África a controlar pandemia de Covid-19 no continente?

A informação serviu para reforçar ainda mais a crença dos defensores da ivermectina. Mas será que a ivermectina realmente fez com que a Covid-19 na África fosse controlada? A resposta é um grande e sonoro NÃO!

Vamos aos detalhes! Para começo de história, basta olhar para a publicação para perceber diversas características de fake news. Ela é extremamente vaga, extremamente alarmista (pois dá a entender que um remédio eficaz foi descoberto), possui diversos erros de ortografia (a imagem erra o nome da doença “convid” e até o nome de um país “Nanímia”) e não cita fontes confiáveis.

Além disso, histórias envolvendo remédios milagrosos contra à Covid-19 não são novidade na internet. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, como a que dizia que a ivermectina teria sido descoberta como a cura contra o coronavírus. Também a que indicava que a substância nitazoxanida seria a cura para a Covid-19 e, por fim, a que apontava que Senegal teria registrado apenas cinco morte por Covid-19 por causa do uso da cloroquina.

Vale ressaltar que, apesar de muita gente estar usando a ivermectina como forma de proteção contra à Covid-19, o remédio não é indicado para esse uso. A própria Anvisa já emitiu um comunicado onde deixa claro que o uso da ivermectina contra à Covid-19 não possui embasamento científico, isto é, sua eficácia não foi comprovada. Dessa forma, o órgão sanitário não recomenda o uso da substância como forma de prevenção contra a doença.

Também é importante destacar que a Anvisa refez (ou foi pressionada a refazer) seu comunicado minutos depois. No novo comunicado, a agência destacou que o uso da substância para situações não previstas na bula é de responsabilidade do médico, liberando o uso quando este for prescrito por um médico. A primeira versão do comunicado levava em consideração quase 30 estudos do mundo todo sobre a eficácia da substância no tratamento da Covid-19. A segunda versão foi publicada logo após um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro defendendo o uso do medicamento.

E bem, ao contrário do que aponta a história, a pandemia da Covid-19 está longe de estar controlada na África. De acordo com reportagens recentes, o número de mortes por Covid-19 está em plena ascensão no continente. O número de casos confirmados já passa dos 600 mil e o de mortos se aproxima de 14 mil. Se isso não fosse suficiente, muitos países africanos convivem com a falta de registros de óbitos, o que dificulta ainda mais o monitoramento de vítimas da Covid-19 no continente. Alguns médicos estão pagando sepultadores para que avisem sobre saltos repentinos de enterros. Um alta taxa de sepultamentos ajuda a identificar se uma doença contagiosa e letal está se alastrando.

Como é possível ver, os números oficiais, de fato, estão baixos. Porém, isso está muito mais relacionado com o fato de que a África registra menos de 2% das mortes que ocorrem no continente, com o surto da doença ainda não ter atingido o pico e com a testagem ainda ser baixa do que com os tratamentos.

Vale ressaltar também que as informações usadas na imagem que acompanha a publicação não fazem lá muito sentido. A pessoa que elaborou o material sequer levou em consideração estudos científicos. O que ocorreu foi uma associação livre (e enganosa) de forma bastante simplista. Basicamente, a pessoa usa a informação de que a substância estaria sendo usada para uma determinada doença e associa seu uso ao baixo número de mortes (mesmo que essas duas coisas não tenham relação direta). Com isso, não se leva em conta outros contextos vivenciados pela população africana. Seria, basicamente, como dizer que o Brasil não possui casos de ebola porque bebe água.

Além disso, se a ivermectina realmente fosse a resposta para a situação, países como Peru e Bolívia, que autorizaram o uso da ivermectina, também registrariam números pequenos, não é mesmo? Errado. Atualmente, ambos os países estão enfrentando um agravamento da pandemia e registrando alta taxas de infectados e mortes pela Covid-19.

Por fim, o Projeto Comprova fez um desmentido especial sobre a situação da pandemia da Covid-19 na África. De acordo com o projeto, a África não controlou a pandemia. Segundo os últimos dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os números da Covid-19 têm aumentado em um nível alarmante.

Em resumo: a história que diz que a África controlou a pandemia da Covid-19 no continente com a ajuda da ivermectina é falsa! A associação entre o uso da substância e o baixo número de mortes pela doença, além de burra, também é enganosa. Basta uma pesquisa na internet para entender que o pico da doença ainda não chegou na região. Além disso, o continente também enfrenta problemas com o registro de óbitos, o que dificulta o monitoramento do avanço da doença por lá. Por fim, o uso da ivermectina no combate à Covid-19 não possui embasamento científico. Os testes in vitro, isto é, em células de laboratório demonstraram certa eficácia, porém, os testes in vivo (em pessoas) mostram outro cenário. Recentemente, uma publicação de testes in vivo com ivermectina foi retirada do ar após a constatação de dados falsos. Ou seja, a história toda é mentirosa e não condiz com a realidade. Não compartilhe!

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164. 

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