Boato – Ciro Gomes foi flagrado conversando ao telefone com um membro do PCC. Em áudio, ele fala sobre “crise no comando” agravada por Bolsonaro ao transferir chefes das facções para presídios federais e cortar rede de comunicação.
Não é de hoje que ouvimos falar da aliança entre facções criminosas e partidos políticos. Pablo Escobar talvez seja o maior exemplo disso (e ganhou até série na Netflix), quando comandou o tráfico de drogas na Colômbia por meio do Cartel de Medelin e, ainda assim, foi eleito deputado suplente em 1982. Mas será que o mesmo poderia acontecer aqui no Brasil? Uma aliança entre as lideranças das maiores facções criminosas brasileiras, como o PCC e o CV, e políticos influentes sobre a população para defender pautas “antimáfia”?
É o que aponta o nosso boato de hoje. Uma publicação está espalhando um áudio que supostamente mostra Ciro Gomes conversando com um membro do PCC. Nele, o ex-candidato à Presidência da República nas eleições de 2018 fala sobre uma “crise no comando”, que teria sido agravada por Bolsonaro ao transferir os chefes das facções para presídios federais e cortar a rede de comunicação. Confira, a seguir, o vídeo com o áudio, a transcrição das falas e as versões do texto original das publicações que estão compartilhando o conteúdo:
Confira o desmentido em vídeo:
Transcrição do áudio: LÍDER DA FACÇÃO: “O quê não posso “mano” é ficar parado sabendo aí, que tem aí 700 a 800 mil. De compromisso e ajudas a serem pagas aí pro comando aí”. CIRO GOMES: “O Camilo tá pagando, e eu não quero isso (COBRANÇA). A “bucha é outra, mas pro mal também. Porra, tão torturando alguém e o responsável sou eu”. LÍDER DA FACÇÃO: “Eu aprendi o que eu tenho que ver o que eu vou fazer pelo “comando”, e não o que o “comando” vai fazer por mim”. CIRO GOMES: “Esse argumento eu entendo. O Bolsonaro fez uma coisa que eu a considerava uma irresponsabilidade. Transferiu os chefes do PCC, do Comando Vermelho, dessas facções pros presídios federais e cortou a rede de comunicação. Então veja, não foi o Bolsonaro que criou a crise, mas ele está agravando, está aprofundando a crise”.
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Versão 1 da publicação: O Sr Ciro Gomes em conversa com um. Amigo do PCC. Isto é que é instrutivo. Versão 2 da publicação: Gravíssimo.. […], o cidadão CIRO Gomes.. fazendo contato com CHEFE e, líder do PCC… agora!!! Cadê o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL,, MINISTRO da JUSTIÇA… DIRETOR GERAL DA POLÍCIA FEDERAL… GSI…PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA AUGUSTO ARAS…. ABIN… […], tem que INVESTIGAR o cidadão CIRO GOMES IMEDIATAMENTE… Versão 3 da publicação: Audio vazado de Ciro Gomes em conversa com a facção criminosa PCC…
Ciro Gomes foi flagrado conversando com um membro do PCC?
A publicação com o suposto áudio de “cobrança” entre o líder da facção criminosa e Ciro Gomes viralizou nas redes sociais, especialmente no Facebook. Porém, não passa de um boato – e muito bem feito, por sinal.
Para começar, as versões da mensagem das publicações que estão compartilhando o áudio carregam todas as características de fake news: são vagas (não dizem quando foi instalado o grampo telefônico e divulgado o áudio), alarmistas (têm o intuito de causar debates políticos entre os internautas), possuem erros de português e não citam fontes confiáveis que possam confirmar a veracidade do material.
Em segundo lugar, boatos envolvendo Ciro Gomes já são bastante comuns na internet. Aqui no Boatos.org, nós já desmentimos alguns deles, como, por exemplo, aquele que dizia que Ciro Gomes teria batido Patrícia Pillar quando ela era sua esposa; outro sobre a sua família ser dona de 77 empresas de carros-pipa no Ceará; e até um que apontava que Ivo Gomes, irmão de Ciro Gomes, teria gravado um áudio falando sobre a transposição do rio São Francisco, PT e Bolsonaro.
E assim como nestes casos, ao procurarmos pela informação, nada encontramos. Ao contrário disto, ao buscarmos por partes específicas do suposto diálogo entre Ciro Gomes e o tal líder da facção, descobrimos que ele foi montado com partes de escutas telefônicas da Polícia Federal em investigações e entrevistas de Ciro.
A primeira parte da conversa, por exemplo, com a fala do suposto líder do PCC sobre “700 a 800 mil” e a outra sobre “fazer pelo comando”, foram retiradas de um áudio grampeado pela Polícia Federal do Paraná em uma investigação que levou à prisão de 28 pessoas em sete estados, em agosto de 2019. À época, inclusive, o conteúdo que citava o PT de forma negativa e favorecia Sério Moro foi vazado para a imprensa, o que foi considerado uma tentativa de “armação” ou “retaliação”, pelo fato de o áudio ter sido interceptado pela Polícia Federal do Paraná, que estava sob o comando de Moro, desafeto do PT.
E, apesar de não encontrarmos a origem de algumas falas ditas como de Ciro Gomes, como a parte que ele cita o Camilo Santana, descobrimos que todo o diálogo foi retirado de uma entrevista que ele deu ao Maurício Meirelles. Por exemplo, o trecho em que ele fala “a ‘bucha’ é outra, mas pro mal também”, aparece por volta dos 2m45s de vídeo; a parte do “torturando alguém”, ele fala por volta dos 3m10; enquanto o trecho sobre a “transferência dos chefes de facções para presídios federais” aparece mais ou menos em 20m56s; e, por fim, o trecho sobre a “crise” é possível assistir por volta de 22m13s de vídeo.
Resumindo: A publicação que dá conta de que Ciro Gomes foi flagrado conversando com um membro do PCC não é verdadeira. O áudio que está sendo compartilhado foi montado com partes de outras gravações para criar um diálogo falso. Portanto, por mais que pareça verdadeiro, não dá para acreditar em tudo o que vê – ou escuta, como neste caso – na internet. Fica a dica!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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