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Boulos criou um “laranjal” com empresas fantasmas nas eleições 2020 #boato

Boulos criou um “laranjal” com empresas fantasmas nas eleições 2020, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Foi descoberto um esquema do candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL). Ele criou um laranjal com empresas fantasmas para captar R$ 500 mil da campanha para eleições 2020.

Pelo que tudo aponta, a fake news “bala de prata” das eleições 2020 foi revelada no dia 11 de novembro de 2020. A subida de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à candidatura da cidade, nas pesquisas de intenção de voto ajudou a gerar (como sempre acontecem com candidatos que estão nesta condição) uma “denúncia bomba”.

Vídeos e mensagens em redes sociais apontam para um suposto escândalo na campanha eleitoral de Guilherme Boulos. De acordo com as denúncias, ele teria um “laranjal” para captar dinheiro de campanha. A prova estaria em visitas que a “investigação” fez a endereços registrados pelas empresas no qual não haveria um endereço “comercial”.

A partir daí foi dito que a empresa Kyrion foi aberta apenas para “fraudar a campanha de 2020”, ganhar R$ 500 mil e que “não funciona”, que a empresa Filme de Vagabundos ganhou R$ 28 mil e não funciona e, por fim, que a campanha de Boulos é corrupta e está roubando o dinheiro da população do Brasil.

Boulos criou um “laranjal” com empresas fantasmas nas eleições 2020?

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A história circulou com muita força na internet. Além de a publicação da “denúncia” ter dezenas de milhares de visualizações em um dia, termos como “laranjal do Boulos” ficarem nos trend topics do Twitter (a gente já explica uma das razões) por todo dia e blogs de direita repercutirem o caso, o assunto foi levantado no debate eleitoral ocorrido no dia 11 de novembro. Apesar de todo alarde em questão, a história não é bem assim.

Vamos partir de um princípio básico para começar a explicação. Uma denúncia grave necessita de provas robustas para ser validada. E, ao contrário do que dá a entender as publicações atacando Guilherme Boulos, as “provas apresentadas” (de forma bem agressiva, por sinal) não sustentam a tese de que há empresas fantasmas, dinheiro desviado ou um “laranjal do candidato”. Todas as acusações foram refutadas e até a própria Justiça Eleitoral já classificou a informação como falsa.

Para começar, a fonte da informação não é o que podemos chamar de “isenta politicamente” (antes que você pergunte ou veja um fanático comentar algo sobre o assunto, o Boatos.org é, sim, isento politicamente). Nem vamos entrar no mérito de que a fonte já foi presa em investigações que envolvem disseminação de fake news e que já teve denúncias como “de que a China tem espiões no Brasil para implantar o 5G” desmentidas aqui. Vamos nos ater em um fato: ela não apoia Boulos ou mesmo se apresenta como neutra no pleito eleitoral.

Só esse fato já nos traria a necessidade de procurar pela denúncia (ou endossos dela) em fontes confiáveis (como, por exemplo, veículos jornalísticos ou denúncias por parte da Justiça). Como era de imaginar, nada encontramos. No final, a história só virou combustível político (com direito, de acordo com essa matéria, a impulsionamento por robôs em redes sociais).

Ainda “dando o benefício da dúvida”, resolvemos ver o que o próprio Boulos tinha a dizer a respeito das denúncias. Em publicações no Twitter, o candidato explicou que os casos não têm nada a ver com “corrupção” ou mesmo com “empresas fantasmas”. Leia o que foi dito a respeito:

Para desmentir a fake news, informamos: 1. A produtora Filmes de Vagabundo pertence à cineasta Amina Jorge, diretora de audiovisual da comunicação digital da campanha. Como muitos profissionais que trabalham como freelancer, ela registrou a empresa, em 11 de setembro de 2018, em seu endereço residencial, como consta no CNPJ. Em dezembro de 2018, ela mudou de residência e não atualizou o novo endereço jurídico na Junta Comercial. O nome Filmes de Vagabundo, tratado com escracho pelo candidato Celso Russomanno durante o debate, é uma crítica da cineasta à desvalorização da cultura.

2. Já a empresa Kyrion foi fundada em maio de 2020, com sede administrativa no Butantã, conforme consta no CNPJ. A empresa presta serviços de planejamento e acompanhamento de pesquisas quantitativas e qualitativas contratadas pela campanha, monitoramento e análise diária redes sociais e gestão de comunidades digitais, de acordo com a Nova Lei de Proteção de Dados. Para prestar os serviços, a Kyrion conta com uma equipe com cerca de 20 colaboradores. O contrato entre a campanha e a Kyrion permite que, por razão da pandemia de Covid-19, os serviços sejam prestados remotamente pela equipe, razão pela qual não há atividade de campanha na sede administrativa da empresa. Um dos sócios da Kyrion é o Beto Vasques, profissional com mais de 20 anos de experiência e comunicação política e trabalhos no Brasil e no exterior. Até março de 2020, Vasques morava e trabalhava com comunicação digital na Espanha, onde também tem cidadania.

Para além da fala de Boulos, há alguns detalhes que enfraquecem a tese de que o “dinheiro foi desviado”. O primeiro é que os profissionais citados na denúncia são conhecidos (Amina Jorge tem alguns filmes no currículo e Beto Vasques ajudou na campanha do movimento Podemos! na Espanha).

O segundo é que o desenrolar da campanha não condiz com uma prática de “empresas fantasmas” ou “desvio de recursos de campanha”. Só como ilustração: no caso das candidaturas laranja nas eleições de 2018 foi detectado muito investimento e poucos votos. Não é o caso de Boulos. Para chegar no segundo turno de uma campanha para prefeito de São Paulo é preciso muita coisa, inclusive, investimento.

Para terminar e, de fato, passar a régua no caso, a própria Justiça Eleitoral apontou que a denúncia é falsa. Depois de ficar o dia inteiro viralizando na internet, o TRE-SP concedeu liminar à campanha de Boulos, tirou o vídeo com a denúncia do ar e intimou o autor dela para falar sobre o caso. Mais do que isso: o juiz eleitoral classificou o conteúdo da denúncia como “sabidamente inverídico” na decisão. Leia trecho da sentença:

O cenário delineado pela matéria produzida pelo representado não encontra lastro nem sequer em indícios, como demonstrado de forma contundente na sua inicial pelo ora representante, sendo refutado pontualmente, permitindo-se, sem temor, de ser adjetivado de sabidamente inverídico, extravasando o debate político-eleitoral. Presentes os requisitos legais para a concessão da almejada tutela de urgência genericamente prevista no artigo 300 do CPC de 2015, para fins de determinar a imediata retirada da página do ar.

A probabilidade do direito foi suficientemente demonstrada pelo representante ao discorrer sobre os fatos considerados ilegais praticados pelo representado. E, o perigo do dano, para o candidato representante, decorre da proximidade do pleito eleitoral, pois sua imagem irremediavelmente prejudicada em razão da não suspensão do vídeo veiculado.

Vamos ver o que temos até agora: 1) Uma denúncia “bomba” com muita espetacularização e poucas provas. 2) Vindo de uma fonte, no mínimo, enviesada politicamente (sem considerar outros elementos). 3) Que foi respondida e explicada. 4) Foi considerada inverídica pela Justiça e ainda foi retirada do ar. Com isso, já dá para dizer que todo o papo de laranjal do Boulos e de empresas fantasmas não passa de mais um boato que circula na internet.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.

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