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Professora Anita Bezerra faz relato sobre aluno de 10 anos e a tragédia de Suzano #boato

Boato – A professora Anita Bezerra faz relato emocionante sobre um comentário de um aluno sobre “quem matou o menino que atirou na tragédia de Suzano”.

A ataque à escola Raul Brasil, localizada na cidade de Suzano (SP), ainda choca muita gente. Em meio à comoção causada pela tragédia, muitos textos falsos estão circulando online. Já desmentimos por aqui mensagens falando de textos atribuídos ao padre Fábio de Melo e ao médium Chico Xavier. Agora, vamos falar de uma história que teria acontecido em uma sala de aula.

Um texto que viralizou no WhatsApp e Facebook dá conta de que uma professora de história chamada Anita Bezerra se emocionou com o comentário de Victor, garoto de 10 anos, sobre o ataque em Suzano. De acordo com a mensagem, ela teria entrado na sala de aula e deixado as crianças falarem sobre o ocorrido antes da aula. Após Victor falar que quem matou o “aluno que atirou” foram as pessoas que não quiseram conversar com ele, a professora saiu da sala, chorou e ligou para os parentes. Leia:

Ontem ás 13:30hs quando entrei na sala de aula os alunos estavam eufóricos comentando sobre a tragédia de Suzano! Eu como professora de história resolvi deixá-los debater sobre o assunto! Até que o Victor, menino de 10 anos me perguntou! Professora e quem matou o menino que atirou?

Vídeo: é falso que assalto foi realizado com camiseta no retrovisor de carro

Todos já responderam, “ele que se matou”! Victor se levanta e diz, “quando a minha mãe briga com meu pai eles ficam dias sem se falar e quando eles ficam de bem de novo ela sempre fala”, “você me mata todas as vezes que para de falar comigo”, continuou,”Acho que ele matou todos e se matou por que ninguém queria conversar com ele”!

Todos ficaram em silêncio, eu me levantei fui até ao banheiro e chorei como uma criança! Ontem depois de 15 anos dando aula, eu aprendi com o Victor de 10 anos o que é ser humano e que nós matamos uns aos outros dia após dia! Cheguei em casa abracei meu esposo e filhos, liguei para um irmão que não nos falávamos por mais de 10 anos, e chamei-o para vir até minha casa no fim de semana.

Liguei para minha mãe, para minha sogra, para alguns primos e marquei uma reunião para que todos se reunissem e conversassem uns com os outros! Liguei para alguns amigos só para saber como eles estavam! Agora vim ensinar o que o Victor me ensinou ontem! Não matem as pessoas!Conversem, cuidem um dos outros, cuide da sua familia!

Nós temos o poder de causar mal ao outro e não nos damos conta disso! Achamos que viver em guerra é melhor, que deixar nossa família é o correto, batemos no peito que somos melhores que fulano e ciclano só porque nossas atitudes são diferentes, falamos mal um dos outros, postamos indireta para nos sentirmos superior, quando na verdade estamos só matando o outro de pouco a pouco! Ensinem seus filhos a amar as pessoas, não ensinem ódio, não ensinem eles a machucar as pessoas!Conversem, conversem e se cuidem! Professora Anita Bezerra.

Professora Anita Bezerra faz relato sobre aluno de 10 anos e a tragédia de Suzano?

A tal mensagem se espalhou muito por aí e, quiçá, fez outras pessoas chorarem por 15 minutos no banheiro. Mas será mesmo que o relato da professora Anita Bezerra sobre o Victor é real? Pelo que tudo aponta, não. Calma aí que a gente explica tudo.

Esse tipo de história (que, em teoria, não tem muito compromisso com a verdade) é uma das mais difíceis de se desmentir. Ela é complicada porque cita uma pessoa “comum” (no caso, uma das milhares de professoras do ensino fundamental no Brasil) e não tem muitos elementos checáveis como fotos, registro de em que escola ocorreu, em que situação etc. Mesmo assim, dá para identificá-la (com um pouco de atenção) como falsa.

O primeiro elemento que denuncia a farsa está no fato de que a história está “mal contada”. Como dito antes, ela é extremamente vaga. A tal professora Anita, por exemplo, não foi encontrada em nenhum lugar na internet. Mesmo com a repercussão da história, a professora não “apareceu” em nenhum lugar para falar sobre o “causo”. Sequer há qualquer relato de postagens da tal história provindas de qualquer perfil com esse nome. Ou seja, a tal história brotou na web.

Vale falar sobre outra característica do texto: os erros de português. A mensagem tem acento colocado como se fosse crase, erros de concordância, acentuação e digitação. A gente até entende que a professora estaria emocionada, mas é difícil errar tanto assim.

A coisa não para aí. Ao buscar pela origem das mensagens, achamos textos no Facebook do dia 14 de março, dia seguinte à tragédia. A mensagem fala sobre uma discussão às 13h30. Naquele momento, às informações eram muito preliminares. Este quem vos fala acompanhou, em tempo real, as notícias sobre o assunto pela EBC. A informação com detalhes das mortes surgiram apenas na coletiva que ocorreu às 14h30.

Vale dizer que esse tipo de história “emocionante” ou “alarmista” (perfeita para angariar likes, dar “a moral no final” e vender filosofia de qualidade duvidosa) sempre aparecem na web. Na nossa história, já falamos de casos de denúncias contra desenhos infantis, agressões religiosas, denúncias contra videogames e outras. Nenhuma se concretizou.

Resumindo: por mais que a “história tenha algum fundo de verdade”, o fato é que a história que aponta que um aluno fez uma professora chorar por causa da tragédia é (até que se prove o contrário) ficção. Você pode até concordar com o conteúdo, mas tenha consciência que o causo não aconteceu.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo siteFacebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.