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Médica usuária de crack é filmada vivendo nas ruas #boato

Boato – Publicação no Facebook mostra antes (foto) e depois (vídeo) de uma médica usuária de crack que vive nas ruas e se prostitui.

O efeito devastador das drogas é uma realidade para muitos brasileiros e suas respectivas famílias. Para se ter ideia, em São Paulo, um pedaço do centro da cidade há anos é denominado como Cracolândia devido à concentração de usuários de crack no local. O problema tem sido discutido em fóruns globais e até mesmo a ONU considera o aumento expressivo do consumo do crack um caso de epidemia.

Parece que tudo está muito distante de nossas realidades, mas não está. Histórias e mais histórias de como o crack destruiu vidas são recorrentes na televisão, por exemplo. E pelo jeito, na internet também. Segundo uma publicação no Facebook que mostra o vídeo de uma mulher bastante debilitada ao lado de uma foto supostamente da mesma pessoa vestida com um avental de medicina, o crack é a razão da destruição de carreiras.

No vídeo, que não exibiremos aqui, um homem grava com seu celular uma mulher bastante magra e nitidamente constrangida. Nas imagens ele a questiona sobre sua vida como usuária da droga. A mulher responde a todas as perguntas feitas e diz que era médica antes de consumir crack, informando inclusive seu nome e CRM: Irlande, CRM 6213972. Segundo a mulher, ela atuava em São Paulo até abandonar a família por causa da dependência química. Confira as mensagens que tem acompanhado a postagem:

Vídeo: é falso que Elon Musk colocou imagem do Lula ladrão no prédio

Versão 1: VEJA O QUE O CRACK PODE FAZER COM VOCÊ !!! De médica a viciada. Versão 2: EFEITO DEVASTADOR DAS DROGAS… MÉDICA, MÃE DE FAMÍLIA, CAI NO VÍCIO MALIGNO DO CRACK… Versão 3: Gente vejam que triste. Essa médica entrou no mundo do Crack e veja ela antes e depois.

Médica usuária de crack é filmada vivendo nas ruas?

O relato da mulher no vídeo e suposta foto mostrando o “antes” na vida dela é desolador e realmente nos leva à reflexão sobre os caminhos perversos do uso de droga e sua capacidade destrutiva. Talvez por isso, a postagem esteja fazendo tanto sucesso e sendo tão compartilhada. Mas, será que o vídeo e a foto mostrada são da mesma pessoa? Será que o relato da mulher dizendo que foi médica é verdadeiro? Não, para ambas as perguntas. Agora vamos entender os detalhes.

Quando fomos procurar pela origem do vídeo, descobrimos que ele foi publicado pela primeira vez em 2015. De lá para cá, ele tem sido revivido (por assim dizer) na internet, sempre com a mensagem de quão devastadora é a droga. Acontece, que a foto mostrada ao lado do vídeo não é da mesma pessoa.

Na fotografia, quem aparece é Vilka de Souza Nobre, uma mulher que em 2015 fingiu ser outra médica, Cibele Lemos, e até atendeu pacientes com este nome na cidade de Alumínio, interior de São Paulo. O processo contra Vilka, inclusive, continua em andamento até hoje.

“Ah, mas a mulher do vídeo diz que era médica, então é verdade né?!”. Todos os sinais indicam que não é. Procuramos pelo número do CRM (6213972) de “Irlande” no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e a busca não retorna resultados. Também procuramos pelo nome dela (e variações semelhantes) e nada.

Por via das dúvidas, procuramos também no site do Conselho Federal de Medicina e o número não é encontrado. Isso porque, o CRM é sequencial. Quer dizer que a cada novo registrado emitido o número do CRM aumenta sequencialmente. De acordo com as nossas buscas, o CRM de São Paulo “mais alto” está próximo do 201 mil, um número muito abaixo do informado pela mulher no vídeo.

Por fim, basta que a gente repare minimamente no teor sensacionalista das próprias postagens para já acionar o alarme contra boataria. Ambas são sensacionalistas, ficam “convidando” para que as pessoas vejam a situação da mulher e esquecem por completo de respeitar a imagem dela que é absurdamente exposta na gravação.

Portanto, não é verdade que o post mostra o antes e depois de uma médica viciada em crack. As mulheres mostradas no vídeo e na fotografia não são as mesmas. Uma, cometeu fraude no interior de São Paulo e a outra, ao que tudo indica, nunca foi médica. Por isso, é boato. Uma triste história, ainda assim #boato.

PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164