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Gnastoma Spirinelis presente no Tucunaré já infectou 400 pessoas e atinge olho #boato

Gnastoma Spirinelis presente no Tucunaré já infectou 400 pessoas e atinge olho, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Parasita Gnastoma Spirinelis presente no Tucunaré pode desenvolver doença em humanos e já atingiu 400 pessoas no interior de São Paulo.

O Tucunaré é um peixe bastante famoso na América do Sul, especialmente no Brasil. Seu habitat natural é a bacia amazônica, preferindo locais de águas lentas e paradas. Por se tratar de um peixe que consome animais menores, sua introdução em outros habitats acabou causando o desaparecimento de algumas espécies.

Entretanto, sua presença anda ameaçada em muitos lugares. Bastante popular entre pescadores de prática esportiva, o Tucunaré também é bastante apreciado para consumo humano (a carne do peixe possui cerca de 21% de proteínas e apenas 1% de gordura).

Mas de acordo com uma história que anda circulando nas redes sociais, os consumidores devem ficar atentos. Segundo as publicações, 400 pessoas no interior de São Paulo foram contaminadas por uma larva encontrada no Tucunaré: a Gnastoma Spirinelis. Junto à mensagem, circulam um vídeo (que não vamos mostrar aqui) de larvar no olho de um peixe e uma foto de um sujeito que teria tido o problema e estava com larvas no olho. Confira:

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“Atenção pescadores de Tucunaré, este é o *Gnastoma Spirinelis* que o Marco Parisi de Votuporanga contraiu após comer um tucunaré do Rio Tietê. Já são mais de 400 casos no interior de São Paulo. É grave e pode ir para o olho , cérebro e fígado. A recomendação é consumir (principalmente sashimis) o peixe após mínimo de 24 hs de congelamento”.

Gnastoma Spirinelis presente no Tucunaré já infectou 400 pessoas e atinge olho?

A notícia pegou muita gente de surpresa e deixou diversos moradores do interior de São Paulo assustados. A informação, claro, viralizou, deixando muita gente preocupada. Mas o que pouca gente se perguntou antes de compartilhar a história é se ela realmente é verdadeira. A resposta? Não!

Vamos lá! O fato é que essa história apresenta diversas características de boatos online (o que nos leva a duvidar de sua veracidade). A mensagem é vaga (não indica onde os 400 foram registrados, nem o período em que a doença foi contraída), bastante alarmista e não cita fontes confiáveis.

Resolvemos buscar mais informações sobre os supostos 400 casos registrados no interior de São Paulo, porém, não encontramos nada. Na realidade, descobrimos que esse dado (400 casos) foi constatado no Japão. Mas não se trata de um surto. Esse é o número de casos registrados por ano no país.

Outro ponto suspeito é a tal doença Gnastoma Spirinelis (ou verme ou larva). O fato é que ela não existe. Ao buscar pelo nome nos sites de busca, descobrimos que a suposta doença é citada apenas nas mensagens sobre a história de hoje.

O que a equipe do Boatos.org constatou, na realidade, é a existência da doença gnatostomíase (ocasionada por um parasita presente em peixes contaminados). Entretanto, a doença não causa o aparecimento de larvas no olho e muito menos é frequente no Brasil (apesar de já ter ocorrido casos no Brasil).

Em relação ao vídeo do peixe e as larvas nos olhos do animal, é preciso cuidado. As imagens foram publicadas em 2018 (o que desmente a tese de que o tal peixe teria sido culpado pelo surto) e os comentários indicam se tratar de algo normal (inclusive em outros peixes).

Vale ressaltar que essa história de parasitas de peixes brasileiros infectarem humanos não é lá bem assim. De acordo Eduardo Makoto Onaka, do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Continental, Instituto de Pesca, APTA-SAA, a contaminação precisa de um contexto para ocorrer.

Embora seja possível, a infecção dificilmente ocorre pela ingestão de água ou de carne mal cozida, contendo larvas do verme. É necessário que haja outros elementos envolvidos no processo, tais como baixa imunidade do consumidor e quantidade de larvas ingeridas, entre outros.

Por fim, a foto do homem com a larva no olho não é do suposto Marcos Parisi e muito menos tem a ver com um suposto surto da doença Gnastoma Spirinelis. Na realidade, a foto mostra um homem de 60 anos, na Índia, que teve um verme de 15 centímetros retirado de seu globo ocular. Segundo o médico que atendeu a emergência, os ovos desse tipo de parasita são transmitidos pela picada de mosquitos.

Em resumo: a história que diz que 400 pessoas foram infectadas pela doença Gnastoma Spirinelis, no interior de São Paulo, após consumirem carne de Tucunaré é falsa! A doença (larva ou verme) sequer existe. Especialistas também afirmam que a contaminação por parasitas presentes em peixes é muito pouco provável no país, pois dependem de um contexto (número de larvas e imunidade baixa, por exemplo). Além disso, a foto que mostraria Marcos Parisi (um consumidor infectado), na realidade, sequer é de um brasileiro (e não tem nada a ver com peixes, mas sim com um mosquito). Ou seja, a história não passa de balela. Até a próxima!

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164. 

PS: Editamos o texto em 10/07 para deixar claro que já foram relatados casos de gnatostomíase por consumo de Tucunaré (cru).

Graças à colaboração do leitor Marcelo Mendonça, descobrimos que foram apresentados dois casos de moradores de São Paulo em 2018 (nenhum de Votuporanga e tampouco com o nome descrito na mensagem). 

Graças à colaboração de um médico, chegamos ao conhecimento que há um relato de 2009 de um brasileiro que consumiu ceviche no Peru em 2009, que em 2005 houve um caso autóctone no Brasil (em estudo publicado por ele) e que foi relatado a ele um caso de 2012 (ou 2013) relatado por um médico francês. 

Reiteramos, mesmo assim, a mensagem que circula na internet não reflete à realidade uma vez que os números de casos estão (muito) exagerados, o caso relatado não tem comprovação, as imagens nada têm a ver com a doença e que Gnastoma Spirinelis (descrita no texto) não existe.