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Enxaguantes bucais são descobertos como a cura da Covid-19 #boato

Enxaguantes bucais são descobertos como a cura da Covid-19, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Testes mostram que enxaguantes bucais podem matar o novo coronavírus e, por isso, são a cura para a Covid-19.

A pandemia da Covid-19 parece ter voltado a ganhar força no mundo inteiro. Mas antes da primeira onda do surto da doença chegar em terra tupiniquins, muitos brasileiros acreditavam ter “a cura ou o tratamento” para a Covid-19.

Tudo parecia ir bem. Bom, pelo menos até cada uma dessas histórias mirabolantes começar a ser desvendada e desmentida. E quando a gente achou que elas teriam chegado ao fim, eis que a criatividade do brasileiro aflora novamente.

Nos últimos dias, uma história sobre uma possível cura para a Covid-19 começou a fazer sucesso nas redes sociais. De acordo com ela, os famosos enxaguantes bucais teriam o poder de curar a Covid-19.

Enxaguantes bucais são descobertas como a cura da Covid-19?

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A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, especialmente, no Facebook e no WhatsApp. A história está sendo amplamente repassada, mas, na realidade, ela não passa de boato!

Toda a confusão começou após a divulgação de um experimento feito por cientistas da Universidade de Cardiff (a capital do País de Gales). De acordo com os pesquisadores, bochechos regulares com enxaguantes bucais teriam mostrado “sinais promissores” na eliminação do SARS-CoV-2 (o novo coronavírus). O segredo estaria na presença do cloreto de cetilpiridínio (CPC), uma substância bastante utilizada em enxaguantes bucais como uma alternativa ao álcool.

Apesar da descoberta, o estudo ainda não foi revisado por pares. Lembramos que essa é uma fase importante no desenvolvimento de uma pesquisa científica. Quando há um achado relevante, os cientistas detalham tudo em um paper ou em um artigo científico. Para tornar a descoberta válida, o trabalho precisa passar pela chamada “revisão por pares”. Nessa etapa, outros cientistas avaliam tanto a teoria quanto a metodologia e os procedimentos da pesquisa, tentando identificar falhas ao longo do estudo. Caso a avaliação seja positiva, o estudo passa a ter validade científica. Isto é, significa que o trabalho trouxe benefícios para a comunidade acadêmica.

Além disso, existe outro ponto bastante importante nessa história. O estudo conduzido pelos pesquisadores da Universidade de Cardiff foi realizado em laboratório. Isto é, todos os testes foram feitos em laboratório e sob condições controladas. Os ensaios clínicos devem começar em breve, mas os resultados mais concretos (e próximos da realidade) só devem ser divulgados em 2021. E isso é importante por quê? Simples. Temos vários exemplos de estudos que apresentaram bom desempenho em testes in vitro (em laboratório), mas não conseguiram repetir os resultados em testes in vivo (em ensaios clínicos com humanos). Dentre eles, é possível citar os estudos com a hidroxicloroquina, a ivermectina e até com a nitazoxanida. E isso é mais comum do que se imagina. Por isso, é necessário cautela!

A pesquisa até faz sentido, uma vez que o cloreto de cetilpiridínio (CPC) é uma substância com propriedades antimicrobianas e consegue perturbar o metabolismo e inibir o crescimento da célula. Entretanto, quando alguém utiliza um enxaguante bucal, o local de ação se limita apenas à cavidade bucal e ao início da garganta. Como a Ciência já nos mostrou, a Covid-19 é uma doença que afeta o trato respiratório. Dessa forma, o CPC não conseguiria combater a Covid-19 e muito menos eliminá-la do trato respiratório e do pulmão. O trabalho se concentraria em eliminar o SARS-CoV-2 da saliva.

Por isso, se o estudo se confirmar, utilizar o enxaguante bucal poderia ser uma boa estratégia para reduzir a carga viral presente na boca dos indivíduos e, quem sabe, ajudar a reduzir a disseminação do SARS-CoV-2 por aí. Entretanto, até que resultados mais concretos sejam divulgados, isso fica apenas no campo da especulação.

Em resumo: a história que diz que enxaguantes bucais podem matar a Covid-19 é falsa! Primeiro, porque a história surgiu a partir de um estudo realizado na Universidade de Cardiff (no País de Gales) que não falava nada sobre a Covid-19, mas sim sobre o SARS-CoV-2. O estudo, realizado in vitro (em laboratório), deu indicativos de que enxaguantes bucais poderiam ajudar a eliminar o novo coronavírus da saliva. Entretanto, o estudo ainda não foi revisado por pares (outros cientistas) e nem foi aplicado em seres humanos (para se saber a real dimensão do efeito da substância estudada). Por conta disso, até o momento, tudo se trata de uma especulação. A única certeza que temos até o momento é que, se o enxaguante realmente funcionar, ele não vai tratar e muito menos matar a Covid-19 (porque se trata de uma doença do trato respiratório), mas sim eliminar a carga viral da boca. Ou seja, a história não passa de balela! Não compartilhe.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.

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