Boato – O advogado e político francês Gilberto Collard fez um texto sobre o islamismo e Jihad no país.
Análise
Em mais um texto da série de boatos que voltaram a circular por conta dos conflitos entre o Hamas e Israel (acreditamos que este seja o último da série), vamos falar de um texto “lacrador” contra o islamismo que voltou a viralizar agora em 2023.
Trata-se de um texto que começa com o título “muito sério o islã” (não com esta qualidade ortográfica) que é atribuído ao advogado e político francês Gilbert Collard. Leia algumas das mensagens que estão circulando na internet:
MUITO SERIO O ISLÃ.* A França (liberal e pioneira na criação de permissividades) está passando por uma fase de “muçulmanização” nos hábitos e na leis. Um advogado francês chamado Gilbert Collard resolveu se manifestar. Todos os países do ocidente correm o mesmo risco. ________ – “Fui obrigado a tomar consciência da extrema dificuldade em definir o que é um infiel, para poder escolher entre Alá ou o Cristo; até porque o Islamismo é de longe a religião que progride mais depressa no nosso país. Participei de um estágio anual de atualização, necessária para renovação da minha habilitação de segurança nas prisões.
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Nesse estágio houve uma apresentação por parte de quatro palestrantes, representando respectivamente as religiões Católica, Protestante, Judaica e Muçulmana, explicando os fundamentos das suas doutrinas respectivas. Foi com um grande interesse que esperei a exposição do Imã. A apresentação deste ultimo foi notável, acompanhada por uma projeção em vídeo. Terminadas as intervenções, chegou-se ao tempo de perguntas e respostas, e quando chegou a minha vez, perguntei:
– “Agradeço que me corrija se eu estiver enganado, mas creio ter compreendido que a maioria dos Imãs e autoridades religiosas decretaram o “Jihad” (guerra santa), contra os infiéis do mundo inteiro, e que matando um infiel (o que é uma obrigação imposta a todos os muçulmanos), estes teriam assegurado o seu lugar no Paraíso. Neste caso poderá dar-me a definição do que é um infiel?” Sem objetar à minha interpelação e sem a menor hesitação, o Imã respondeu: – “Infiel é todo não muçulmano”. Eu respondi: – “Então permita-me assegurar se compreendi bem; os adoradores de Alá devem obedecer às ordens de matar qualquer pessoa não pertencente à vossa religião, a fim de ganhar o seu lugar no Paraíso, não é verdade? A sua cara, que até então tinha tido uma expressão cheia de segurança e autoridade, transformou-se subitamente na de um menino, apanhado em flagrante com a mão dentro do açucareiro!!! – “É exato”, respondeu ele num murmúrio. Eu retorqui: – “Então, eu confesso ter bastante dificuldade em imaginar o Papa dizendo para os católicos que massacrem todos os vossos correligionários, ou o Pastor Stanley dizendo o mesmo para garantir a todos os protestantes um lugar no Paraíso.”
O Imã ficou sem voz ! Continuei: – “Tenho igualmente dificuldades em me considerar vosso amigo, pois que o senhor mesmo e os vossos confrades incitam os vossos fiéis a cortarem-me a garganta!” Além disso, me aflige uma outra questão: – “O senhor escolheria seguir Alá que vos ordena matar-me a fim de obter o Paraíso, ou o Cristo que me incita a amar-vos a fim de que eu aceda também ao Paraíso, porque Ele quer que eu esteja na vossa companhia?” Nessa hora, dava para ouvir uma mosca voar, enquanto que o Imã continuava silencioso.
Será inútil afirmar que os organizadores e promotores do Seminário de Formação não apreciaram particularmente esta maneira de tratar o Ministro do culto Islâmico e de expor algumas verdades a propósito dos dogmas desta religião. No decurso dos próximos trinta anos, haverá suficientes eleitores muçulmanos no nosso país para instalar um governo de sua escolha, com a aplicação da “Sharia” como lei. Parece-me que todos os cidadãos deste país e do mundo deveriam poder tomar conhecimento destas linhas, mas como o sistema de justiça e das “mídias” liberais combinados com a moda doentia do “politicamente correto”, não permitirão de forma nenhuma que este texto seja publicado de forma intensiva. É por isto que eu vos peço para enviar a todos os seus contatos via Internet. Obrigado, Gilbert Collard, cristão, cidadão francês e advogado.
Checagem
Assim como no caso de outras checagens, esta história já havia sido desmentida no Boatos.org (no caso, a nossa checagem foi em 2018). E, assim como em outros casos, a história que viralizou é falsa.
Na parte da checagem, vamos responder às seguintes questões: 1) Quem é Gilberto Collard? 2) É verdade que o texto em questão é de autoria do advogado francês Gilbert Collard? 3) O conteúdo do texto é real ao falar que a Jihad prevê que muçulmanos devem matar todos que não são do islamismo?
Quem é Gilberto Collard?
Como a pessoa em questão está sendo vendida por aqui como uma “grande autoridade”. Por isso, vale explicar, inicialmente, quem é Gilbert Collard. Isso fizemos lá em 2018. Relembre:
Gilbert Collard é um advogado e político francês (afinal, nem todo mundo conhece). Atualmente, Gilbert é secretário-geral do Rassemblement bleu Marine (RBM), uma coalizão política francesa de partidos políticos de direita e extrema direita criada por Marine Le Pen. O advogado também é membro da Assembleia Nacional (antiga Frente Nacional) de Gard.
É verdade que o texto em questão é de autoria do advogado francês Gilbert Collard?
Não é. Na realidade, o texto já circulava na internet antes mesmo do desmentido do Boatos.org. Tanto que na época, apontamos que o próprio político havia desmentido a autoria do texto lá em 2012. “O próprio Gilbert Collard negou a autoria do texto. Em um artigo, publicado em 2012, o advogado afirmou que o texto foi falsamente atribuído a ele e classificou o conteúdo como “violento” e “islamofóbico””, falamos em 2018.
O conteúdo do texto é real ao falar que a Jihad prevê que muçulmanos devem matar todos que não são do islamismo?
Também não. Na realidade, o texto em questão tem uma interpretação errada e sobre o islamismo e também (conforme o próprio advogado descreveu) tem um caráter islamofóbico. Relembre o que falamos sobre o assunto:
Vamos a algumas considerações sobre o texto. A primeira delas é sobre a falsa premissa de que os muçulmanos querem matar todos os não muçulmanos. Digo isso porque o islamismo possui um longo histórico de tolerância. Tudo isso, graças aos “povos do livro” (judeus e cristãos), que seriam os povos irmãos por seguirem a Bíblia Sagrada. Além disso, o islamismo, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, acredita nos profetas e mensageiros de Deus. Para eles, a missão dos profetas não é impor seus ensinamentos e, sim, direcionar as pessoas para o caminho de Deus. Logo, não há motivos para acreditar que “muçulmanos querem matar os infiéis”.
O xeque Jihad Hassan Hammadeh, nesta entrevista na Revista IstoÉ, fala sobre o combate aos infiéis. Segundo Jihad, no Corão, livro sagrado do islamismo, as passagens indicam que é preciso combater o injusto e defender o injustiçado, sendo muçulmano ou não. Ou seja, se uma passagem diz “matai os infiéis, onde quer que os encontre”, existe um contexto. Confira o que diz o líder muçulmano:
Entre os incrédulos da cidade de Meca e os muçulmanos de Medina havia um acordo de não agressão. E quebrar esse acordo era passível de pena de morte. É isso que significa. Porém a pessoa que lê sem conhecimento pensa que Deus falou para sair matando todo mundo. É uma interpretação errada dos ensinamentos do Corão.
Conclusão
Fake news ❌
Voltamos agora, em 2023, apenas para reforçar o que falamos há alguns anos: é falso que o texto que está circulando na internet seja de Gilbert Collard. O teor dele também não deve ser levado em conta. No fim, é apenas mais uma fake news que está circulando na internet.
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610)