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Falcão tirou Mário Quintana das ruas após poeta ser despejado de hotel em 1983 #boato

Falcão tirou Mário Quintana das ruas após poeta ser despejado de hotel em 1983, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Falcão salvou Mário Quintana de morar nas ruas após o poeta ser despejado de um hotel em 1983. Ao passar pela rua e ver a triste cena, o ex-jogador pegou as malas de Quintana e o levou para se hospedar em seu hotel. Um exemplo de amor ao próximo!

Não tem nada que chame mais a atenção do público na internet do que os chamados “grandes feitos” de famosos. Não à toa, criadores de hoaxes não medem esforços para usar fotos adulteradas, vídeos fora do contexto e até textões comoventes (às vezes, até bem escritos) enaltecendo supostas boas ações para enganar os internautas e viralizar conteúdos mentirosos, aproveitando-se de sua boa fé.

E em mais um episódio da série “bons samaritanos”, uma publicação que começou a circular recentemente nas redes sociais, principalmente no Facebook, está espalhando uma história tocante, de que Falcão supostamente salvou Mário Quintana após o poeta ser despejado de hotel em 1983. Segundo a postagem, que traz uma narrativa muito bonita de amor ao próximo – até bem poética -, o ex-jogador estaria passando pela rua quando viu a triste cena das malas de Quintana jogadas na calçada e, então, colocou-as no carro e levou Quintana até o hotel em que era proprietário, anunciando-o como o seu hóspede “por toda a eternidade”. Confira, a seguir, o texto original da publicação que está rodando online:

Confira o desmentido em vídeo

Sempre admirei Paulo Roberto Falcão, agora, mais ainda… 1983 – O Hotel Majestic colocou Mario Quintana no olho da rua. A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta. Mario está só. Encontrava o império dos homens sem sentimentos. O porteiro joga um agasalho que tinha ficado no quarto. “Toma, velho!” Mario recita ao porteiro: A poesia não se entrega a quem a define. Mario estava só. Cadê os passarinhos? A sarjeta aguardava o ancião. Paulo Roberto Falcão soubera do acontecido. Chega em frente ao hotel e observa aquela cena absurda, triste. Estaciona e caminha até o poeta com as malas na calçada. “Sr. Quintana, o que está acontecendo?” Mario ergue os olhos e enxuga uma lágrima, destas que insistem em povoar os olhos dos poetas. Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia. Mario lhe explica que o dinheiro acabou. Está desempregado, sem família, sem amigos, sem emprego. Restaram apenas essas malas nas ruas de Porto Alegre. Mario observa Falcão colocando suas malas dentro do carro em silencio. E em silencio, Falcão abre a porta para Mario e o convida a sentar. No silencio de duas almas na tarde fria de Porto Alegre o carro ruma na direção do infinito. Falcão para o carro no Hotel Royal, desce as malas, chama o gerente e lhe diz: “O Sr. Mario agora é meu hóspede!” “Por quanto tempo, Sr. Falcão?” Falcão observa o olhar tímido e surpreso do poeta e enquanto o abraça comovido, responde: “Por toda a eternidade”. ( o hotel pertencia ao Falcão ). O poeta faleceu em 1994. Desconheço a autoria.

Falcão salvou Mário Quintana após poeta ser despejado de hotel em 1983?

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A publicação não demorou muito a tomar conta das redes sociais, ganhando uma série de compartilhamentos, especialmente no Facebook. Porém, apesar de muito bonita e emocionante, a história não procede, já que foi “aumentada”, por assim dizer.

Para começo de conversa, isso não foi surpresa nenhuma para nossa equipe, uma vez que boatos online que espalham “histórias incríveis” envolvendo figuras notáveis já são manjados. Inclusive, nós já desmentimos alguns deles aqui no Boatos.org, como, por exemplo, o que dizia que Alexander Fleming teria salvo a vida de Winston Churchill com penicilina e outro sobre a Carreta Furacão ter salvo uma família de um incêndio em Minas Gerais.

E no nosso caso de hoje, o que houve foi o aumento de uma situação real. A própria Casa de Cultura Mário Quintana desmentiu a história em sua página oficial no Facebook, explicando que o poeta foi sim recebido por Falcão em seu Hotel Royal, mas não por ter sido expulso de algum lugar, mas sim pelo fato de Hotel Majestic ter sido comprado naquela época para virar Casa de Cultura (hoje Casa de Cultura Mário Quintana).

Ao sair de lá, sem sobressaltos, o poeta chegou a residir no Hotel Residence, onde foi bem acolhido, mas de onde também teve que se mudar, sendo avisado previamente e com tranquilidade, devido à falência do estabelecimento. Somente depois disso foi que o jogador Falcão o convidou para se hospedar em seu hotel. Ou seja, não houve nada de despejo e muito menos malas jogadas na calçada.

Até porque, ao contrário do que diz o texto, Mário Quintana já era famoso por sua poesia consolidada, como explicou a sua bisneta, Paula Quintana Biazus: “Nessa época, Mario já tinha uma obra consolidada, com mais de uma dezena de livros publicados, contratos com editoras e recebia direitos autorais das cerca de 130 traduções que fizera”, esclareceu.

Prova disso é que o próprio Falcão contou a história, bem diferente da versão do boato, mostrando-se como um grande fã de Quintana. O blog do Juca Kfouri também trouxe a explicação de um amigo de Mário Quintana, Henrique Mann, sobre o assunto, onde ele desmentiu tudo. No final, o próprio autor do texto que está sendo compartilhado explicou que o conteúdo se trata de uma releitura da história verdadeira de amizade de Falcão e Quintana, a qual ele escreveu em forma de “poesia revestida de realidade”.

Resumindo: A publicação que dá conta de que Falcão salvou Mário Quintana após ele ser despejado de hotel em 1983 não é verdadeira. Apesar de o ex-jogador realmente ter recebido o poeta em seu hotel como hóspede convidado, Quintana não foi expulso de nenhum hotel. Os dois estabelecimentos pelo qual ele passou antes disso decretaram falência e ele foi previamente avisado, saindo com tranquilidade.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.

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