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Não há provas e indícios de que Nizan Guanaes tenha escrito o texto “Terceira Guerra Mundial” para o Estadão

Nizan Guanaes escreveu texto Terceira Guerra Mundial, sobre tragédia do Rio Grande do Sul para o Estadão, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Atualizado em 29 de maio de 2024: depois da publicação do conteúdo aqui no Boatos.org, Nizan Guanaes confirmou a publicação do conteúdo. Porém, ela não se deu no Estadão e sim no jornal Valor Econômico. É o que aponta um post dele no Instagram. Mudamos a conclusão do artigo para “real com erros” e modificamos alguns elementos da checagem original, que pode ser conferida abaixo.

Boato – O publicitário Nizan Guanaes escreveu um texto chamado Terceira Guerra Mundial para o Estadão. O texto fala sobre a tragédia no Rio Grande do Sul.

Análise

O que não tem faltado na internet são mensagens que apontam grandes pensamentos de pessoas influentes. Neste sentido, está circulando na internet uma mensagem que aponta para um texto que teria sido publicado no Estadão e que o autor seria o publicitário Nizan Guanaes.

O texto aponta que a “terceira guerra mundial” já começou, que ela será do homem contra a natureza e que a saída será lutar contra as mudanças climáticas. Mais do que isso: ele aponta que lutar contra isso não só será a salvação como será economicamente viável. Leia:

Vídeo: é falso que Sadia esteja dando prêmios para quem compartilhar no WhatsApp

A terceira guerra mundial (por Nizan Guanaes para o Estadão) Em vários lugares do mundo, já começou a terceira guerra mundial. Não será entre países, mas a guerra entre o homem e a natureza. Uma guerra que evidentemente não podemos ganhar. Quando pensamos na natureza, pensamos nela de forma poética e telúrica. Mas terremoto é também natureza; tsunami também é natureza; seca, nevasca, chuvas torrenciais, avalanche – é tudo natureza. A natureza está agindo em legítima defesa. Ela não aguenta mais ser invadida, desrespeitada, queimada. O que é o Rio Grande do Sul? É a morte anunciada de Gabriel García Márquez.

Não vou escrever mais um texto ingênuo sobre o assunto. É tudo uma questão contábil: explorar a natureza é receita; preservação é despesa. E ninguém está disposto a pagar, nem o consumidor. Mas o que tem a ver este texto “bicho grilo” neste jornal tão circunspecto? Tem tudo. Estive ano passado em Davos, sobre uma discussão sobre aquecimento global, e para meu estarrecimento e pânico, de uma mesa de 12 debatedores, 10 eram as grandes seguradoras do mundo. Elas tinham dados mais assustadores que o Greenpeace e sabiam avaliar as perdas catastróficas que aconteceriam a cada décimo de aquecimento global. O aquecimento global é fato e fato econômico. Napoleão e Hitler perderam a guerra porque foram lutar contra um general chamado Inverno. Estamos entrando numa guerra que não podemos vencer. A devastação do Rio Grande do Sul é um drama humano: centenas de mortes humanas, milhares de mortes empresariais. Uma catástrofe fiscal, desempregadora. Assisti a uma palestra no Itaú BBA Conference em Nova York de Al Gore, que fez o famoso documentário “Uma Verdade Inconveniente”.

Hoje, ele poderia fazer outro documentário chamado “I Told You” (eu te disse). Todos os leitores deste jornal estão ocupados em gerar e gerir patrimônio em sucessão familiar. Então eu chamo esta comunidade a pensar nos nossos filhos e netos. Seus filhos pequenos vão enfrentar um mundo muito difícil, nossos netos vão enfrentar um desastre. Está na hora de ouvir quem mais entende de desastres climáticos: as seguradoras mundiais. Agora vamos colocar os pingos nos iis: o planeta não vai acabar, quem vai acabar são os seres humanos. Você nunca se perguntou como o Titanic afundou? Como eles não viram um iceberg gigantesco? Simples: eles se achavam indestrutíveis. Não dá para negar que temos feitos avanços suficientes para gerar uma economia verde (que pode ser muito lucrativa). Mas os projetos verdes devem ter processos de aprovação (que são infindáveis) mais céleres, muitos incentivos fiscais.

O futuro precisa ter um fast track, o futuro tem que ser lucrativo. Chega de poesia. Só se fala em inteligência artificial, mas a burrice anda mais rápido que a inteligência. A inteligência tem limites, a burrice não. Os organismos multilaterais estão de mãos atadas por regras inoperantes. As ditaduras se movem muito mais rápido que a democracia, com suas infindáveis instâncias. E faltam Churchill e De Gaulles verdes. No Rio Grande do Sul, a natureza não poupou ninguém. Os pobres perderam muito do pouco que tinham e os ricos, muito do muito que têm. Este é mais um texto que os ricos não lerão porque estão cansados de textos assim e têm uma reunião hoje de manhã. Eles são regidos por um mercado sem alma. E os pobres não vão ler porque muitos não sabem nem ler. A bomba atômica é um traque de São João. A caminho de Davos, vi, em pleno inverno, mas os mandatários não veem nem avalanches nem falta de neve porque estão no celular. A natureza está avisando, tchê. Sirva nossa tragédia de aviso a toda a Terra. Sou capitalista liberal. Gosto de dinheiro, de margem, mas não sou cego nem surdo. Senhores, estamos na primeira classe do Titanic.

Checagem

Não demorou para a história se espalhar com esta autoria. Por isso, estamos aqui para realizar a checagem do conteúdo. Isso será feito respondendo a algumas perguntas. São elas: 1) O texto em questão é de autoria de Nizan Guanaes? 2) O texto atribuído a Nizan Guanaes foi publicado no Estadão? 3) O conteúdo contido no texto faz algum sentido?

O texto em questão é de autoria de Nizan Guanaes?

Não há nada que aponte para isso. Ao fazer uma busca em todos os locais que publicitário escreve (como a coluna no jornal Valor Econômico e suas redes sociais), nada encontramos sobre o texto. Ao fazer uma busca sobre a origem do conteúdo, só achamos a citação vinda de terceiros feita em redes sociais.

Atualização: o próprio Nizan Guanaes confirmou que o texto é dele ao fazer uma publicação no Instagram. Porém, a publicação foi feita no jornal Valor Econômico e não no Estadão.

O texto atribuído a Nizan Guanaes foi publicado no Estadão?

Outro ponto que nos causou estranheza é o fato de o texto em questão (ou qualquer texto) de Nizan Guanaes não consta como publicado no site recentemente. Pedimos até um auxílio aos colegas do Estadão Verifica (serviço de checagem do veículo), que fizeram uma busca no acervo. De novo, nenhum resultado foi encontrado.

O conteúdo contido no texto faz algum sentido?

Opinião é opinião e não dá muito para discutir. Porém, há alguns pontos que são, no mínimo, dignos de destaque. O tom do conteúdo dá a entender que a questão ambiental deveria ser menos de missão (salvar o mundo) e mais pragmática (evitar perdas financeiras). Há quem concorde, há quem não concorde. Mesmo assim, ele tem um trunfo em relação a outros textos virais: pelo menos não tem o tom de negacionismo climático.

Conclusão

Real com erros 🤔

Não há provas de que o texto em questão seja de autoria de Nizan Guanaes ou que tenha sido publicado pelo Estadão. Como não conseguimos (ainda) uma resposta do próprio sobre a autoria e não há registro nas fontes citadas, vamos marcar a história como “boato sem comprovação”. Se algo mudar, a gente volta por aqui.

O texto é, de fato, de Nizan Guanaes. Porém, foi publicado no jornal Valor Econômico e não no Estadão. Mudamos o conceito final para “real com erros”. Sobre a opinião, deixamos para você avaliar.

Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610).