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Vacina contra Covid-19 matou três jovens (18, 16 e 13 anos) e destruiu família #boato

Vacina contra Covid-19 matou três jovens (18, 16 e 13 anos) e destruiu família, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Vacina chinesa contra a Covid-19 destruiu família após matar três jovens (18, 16 e 13 anos) e deixar uma mãe em estado grave. Eles tomaram a vacina porque queriam viajar. 

Uma vacina. Essa tem sido a coisa mais cobiçada no mundo pandêmico nas últimas semanas. Seja pela população ou pelos laboratórios e instituições que entraram na corrida para o desenvolvimento de uma imunização, a vacina contra a Covid-19 é a coisa mais desejada ao redor do mundo.

Muitas opções têm sido testadas e algumas delas criaram grande esperança, como a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford (do Reino Unido) em colaboração com o laboratório sueco AstraZeneca. Mas nos últimos dias, uma reação grave inesperada em um paciente que participou da fase de testes da vacina acendeu o sinal de alerta. Desde então, os testes seguem suspensos.

E, de acordo com uma história que está circulando nas redes sociais, não é apenas a vacina de Oxford que merece atenção. Segundo o vídeo que acompanha diversas publicações, uma família teria sido destruída por causa da vacina chinesa contra a Covid-19. De acordo com o relato, três adolescentes (de 18, 16 e 13 anos) teriam morrido após se voluntariarem para a fase de testes da vacina no Brasil.

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A mulher que aparece no vídeo (que tem o título cifrado de “O CASO DA V4 C1N4 QUE DESTRUIU UMA F4 M1L1A”)  afirma que os três teriam tido febre e “várias reações” antes de, supostamente, terem sido internados. Ainda segundo ela, a mãe dos jovens também estaria internada após tomar a vacina.

No vídeo, a mulher ainda fala para as pessoas não se vacinarem, critica o isolamento e o uso da máscara, afirma que a vacina contém chips para monitoramento e ataca as pessoas que a questionam sobre fontes ou quem seria a tal família. O vídeo (que não será exibido aqui) gerou alguns comentários. Confira alguns deles:

Confira também: 6 fake news sobre vacinas que viralizaram durante a pandemia

Versão 1: “Assistam até o final!!! Uma família morta por causa da vacina covid-19. “Se toda população se unir o jogo acaba.”. Versão 2: “Uma família inteira tomou a vacina chinesa , os 3 filhos morreram a mulher está na UTI. Que tristeza! Confirmado pela própria Flavia Mollocay, o caso da família q tomou a vacina chinesa em SP, e matou os 3 filhos e a mãe ta na UTI”.

Vacina contra Covid-19 matou três jovens (18, 16 e 13 anos) e destruiu família?

As publicações fizeram sucesso nas redes sociais, especialmente no Facebook, Youtube e WhatsApp, e têm causado espanto em diversos internautas. As imagens já foram vistas mais de 30 mil vezes no YouTube e o conteúdo compartilhado outras milhares de vezes. Apesar do grande alcance do material, a história não passa de mentira.

Ao ler as publicações, logo de cara, ficamos desconfiados. Isso porque elas apresentam diversas características de fake news na internet, como o caráter vago (não informa o nome da família ou quando a situação teria ocorrido), extremamente alarmista, os erros de português, os pedidos de compartilhamento e a falta de fontes confiáveis. Convenhamos, se isso realmente tivesse acontecido, seria notícia no mundo todo.

Além disso, o conteúdo também segue aquele velho roteiro de vídeos falsos nas redes sociais. O material possui um título que substitui letras por números. Esse tipo de recurso é bastante usado para se tentar burlar os filtros de combate às fake news das redes sociais. O vídeo também possui um título bombástico (o que ajuda a chamar a atenção) e um tempo maior do que 10 minutos. Com isso, o número de anunciantes ao longo do material aumenta e, consequentemente, a renda dos disseminadores de fake news também. Veja uma explicação mais detalhada abaixo:

Se isso não fosse suficiente, a mulher que aparece no vídeo também cita diversas informações equivocadas sobre a pandemia, as vacinas e as medidas de proteção. A equipe do Boatos.org já desmentiu todas as falsas informações mencionadas pela mulher e vocês podem ver aqui, aqui e aqui. Além disso, a mulher não apresenta nenhuma prova de que a história, de fato, tenha acontecido. Por sinal, em outros vídeos, a mulher cita outras fake news já desmentidas, como a Operação Storm. Para além de todos os problemas já citados, o vídeo em questão não tem muita lógica. Os “furos no relato” são diversos, mas vamos citar apenas três:

1) Vocês acreditam que, se tivesse ocorrido algo trágico como esse, a família dos jovens iria se furtar a fazer qualquer denúncia? É claro que os parentes iriam, como se diz, “colocar a boca no trombone” e não apenas deixarem a corrente se espalhar por “uma amiga de uma amiga da irmã e ciclana”.

2) Quem tem acompanhado as notícias nos últimos dias deve ter visto (como citamos lá no início do texto) que todos os testes da vacina de Oxford foram suspensos por causa de uma ocorrência em um voluntário. Tudo parou com uma “ocorrência”. Imagine o que aconteceria no caso de três mortes, como relatado no vídeo.

3) A mensagem cita que dois menores de idade tomaram a vacina. Além de a história partir de uma premissa esdrúxula (como assim tomar uma vacina em testes para “viajar”?), não é permitido que menores de idade sejam submetidos aos testes em questão. Testar as vacinas no Brasil só é permitido para quem tem mais de 18 anos. Além disso, os testes são feitos pelo método duplo-cego (nem os voluntários e muito menos os pesquisadores sabem quem tomou a vacina ou o placebo).

Para terminar, entramos em contato com algumas autoridades em saúde e, como esperávamos, foi nos dito que o caso é falso. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou, por meio da assessoria de comunicação, que desconhece qualquer caso e repudiou o caráter da publicação: “Não há relato de evento adverso como este descrito no vídeo. Trata-se de um crime contra a saúde pública a difusão deste conteúdo”.

O Instituto Butantan também apontou, por meio de nota que não há qualquer relato de mortes entre os voluntários que testaram a vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac. Assim como a Fiocruz, a instituição classificou a informação como irresponsável. Leia:

É irresponsável e totalmente inverídico o depoimento que atribui a morte de pessoas ao uso da CoronaVac, vacina em desenvolvimento pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac Life Science. O Butantan coordena a terceira e última fase dos estudos clínicos com meta de testar 9 mil voluntários no Brasil, sendo que mais de 4 mil já receberam a primeira de duas doses da vacina. Os voluntários que podem participar dos estudos clínicos são profissionais da saúde que estejam atuando no combate ao coronavírus e devem ter idades entre 18 e 59 anos.  O Butantan ressalta que todos os voluntários são monitorados pelos 12 centros de pesquisas e até o momento não foi reportado nenhum efeito colateral grave, muito menos óbito.

Tentamos, ainda, procurar qualquer relato em outras fontes confiáveis (como, por exemplo, o Ministério da Saúde ou notícias na mídia) sobre a morte dos três jovens. É claro que nada encontramos.

Resumindo: a história que circula online e aponta que três jovens morreram após tomar a vacina contra a Covid-19 que está em testes no Brasil é falsa. Além de a “fonte da informação” não apresentar qualquer prova de que a ocorrência seja real, a história não tem muita lógica e foi desmentida (e repudiada) pelas principais autoridades em saúde.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164. 

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