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15 perguntas e respostas sobre o jogo da Baleia Azul

Em meio a boatos e exageros, selecionamos tudo que você precisa saber para não entrar em pânico ou ficar fascinado com o jogo da Baleia Azul. 

Esperamos que este seja o último texto que precisaremos escrever sobre o jogo Baleia Azul. Depois que o assunto ganhou a internet, muitas pessoas ficaram com dúvidas se o desafio existia ou não existia. Em meio a isso, diversos boatos relacionados ao assunto também apareceram online (leia sete deles aqui).

Para esclarecer ao máximo, evitar a “glamourização” e, consequentemente, o aumento do fascínio pelo jogo, nós abrimos um espaço para os leitores realizarem perguntas na nossa página do Facebook. Foram mais de 100 e nós selecionamos 15. Tenha paciência de ler até o final. Após ler este texto, esperamos que vocês estejam mais preparados para lidar com novas informações que, com certeza, vão surgir na web sobre o assunto.

1 – Existe um jogo chamado Baleia Azul que é ligado ao suicídio?

Sim. É fato que algumas comunidades estão se formando na internet (em redes sociais) “oferecendo” uma lista de tarefas sendo que a última seria o suicídio dos participantes. Porém algumas ressalvas devem ser feitas (algumas ainda serão aprofundadas mais para frente) sobre este fato.

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O que estão chamando de “jogo” não deveria ser classificado desta forma. O termo tem gerado dubiedades, dando margens a boatos (como os que falam que se trata de software a ser baixado) e, principalmente, causando fascínio e curiosidade. Se o Baleia Azul tivesse sido tratado com outro termo (como falso jogo ou coação em redes sociais), não teria causado tanto fascínio.

Ou seja, existe o Baleia Azul. Chamar a atividade (que é criminosa) de jogo é, além de um erro semântico, suavizar o problema ou mesmo dar margens a dubiedades.

2 – Como surgiu o desafio da Baleia Azul?

Poucos sabem, mas a fama do Baleia Azul surgiu de uma notícia falsa. Comunidades que incentivam o suicídio sempre existiram na internet (aliás, são raras as coisas que nunca existiram na internet). Em 2008, por exemplo, há um relato de grandes comunidades do Orkut que incentivavam o suicídio.

Em 2015, a morte de uma garota de 16 anos chamada Rina Palenkova, na Rússia, chamou atenção. Ela mesmo postou uma foto na rede social Vkontakte (a mais popular naquele país) instantes antes de cometer suicídio. Após viralizar na internet e, infelizmente, gerar memes, exposição da menina morta e idolatria, a história começou a ser divulgada na imprensa do país.

Em maio de 2016, o site russo Novaya Gazeta fez uma matéria sobre essas comunidades que tratam de suicídio na internet. De acordo com a publicação, 130 jovens haviam se suicidado após participar desses grupos. Entre essas comunidades, a reportagem encontrou grupos com a lista de tarefas da Baleia Azul.

Agora, alguns pontos a se destacar. 1) A projeção de 130 mortes nunca foi comprovada. Ela foi inclusive refutada à época, já que nenhum caso relacionado a Baleia Azul (nem mesmo o de Rina) tinha relação com o jogo. 2) O “jogo” não tinha “um nome”. Eram comunidades com diversos nomes como F57, F58 e Mar de baleias. Cada comunidade tinha o seu nome.

A partir da matéria sobre o assunto, o jornal sofreu um processo por incitação ao suicídio e demitiu o subeditor Sergei Solokov por causa dos métodos de investigação da matéria dias depois. Ao mesmo tempo, a história se espalhou pela Rússia e membros das comunidades começaram a tratar o assunto com mais mistério. O estrago começava a ser feito.

A partir da matéria, a curiosidade sobre o assunto cresceu e mais conteúdos começaram a ser publicados na mídia. Uns veículos eram mais céticos e a acabaram tratando o assunto como deveria ser tratado (o perigo da incitação ao suicídio). Outros foram mais sensacionalistas. Dois chamaram atenção: um conteúdo do Metro UK e outro do The Sun.

3 – Como o desafio da Baleia Azul chegou ao Brasil?

O Baleia Azul chegou ao Brasil da mesma forma que se espalhou em outros países: com ajuda de conteúdo sensacionalista publicado na mídia. Depois que a história foi publicada em tabloides britânicos, ela foi traduzida em alguns sites (inclusive um de conteúdo colaborativo famoso por diversos boatos na internet) no início de março.

Porém, foi no dia 1º de abril (não é brincadeira) que uma reportagem de uma grande emissora de televisão brasileira sobre o assunto fez a história viralizar. O vídeo da matéria começou a ser compartilhado a torto e a direito em redes sociais como um aviso aos pais. O grande problema é que o tema bizarro começou a despertar curiosidade nas pessoas.

Esse gráfico do Google Trends mostra que o interesse pelo jogo começou justamente no dia 1º de abril e aumentou no dia 8 do mesmo mês. Foi mais ou menos neste período que começaram a aparecer “grupos da Baleia Azul”, supostos casos de mortes e mais cobertura da mídia. A partir do dia 18 de abril, quando alguns boatos surgiram sobre o assunto, o interesse pelo Baleia Azul atingiu o ápice.

4 – Qual é a finalidade do Baleia Azul? O que é prometido?

Não tem finalidade e nada é prometido. De acordo com a opinião de especialistas, pessoas com predisposição ao suicídio encontram nestes grupos “coragem” para acabar com a própria vida. A coação por parte dos “curadores” (pessoas que enviam as tarefas) pode ajudar ainda mais a encorajar as pessoas a acabar com a própria vida. Ou seja, é algo que ninguém em sã consciência tende a fazer parte e dar andamento.

5 – Existem, de fato, as 50 tarefas do jogo?

Apesar de muito se falar nas “50 tarefas” do jogo Baleia Azul, não há uma confirmação de que existiam de fato. Uma suposta lista (que inclui automutilação, “músicas depressivas” e acordar 4h20) foi postada em um comentário em uma rede social na Rússia e começou a ser tomada como verdade absoluta.

Pode-se perceber que a confiabilidade não é tão grande a respeito do assunto. Mas você sabe aquela história da mentira repetida por mil vezes se tornar verdade? Pois então, não é de se duvidar que muita gente que resolveu “abrir” uma comunidade com o desafio tenha se baseado nas listas.

Agora temos um furo, principalmente nos casos do Brasil. Se são 50 tarefas para ser cumpridas em 50 dias, como temos tantos casos de suicídio no país relacionados ao desafio sendo que o interesse pelo assunto começou a crescer a menos de um mês? Há três hipóteses: ou estas pessoas jogavam o Baleia antes de “virar modinha”, ou cometeram suicídio sem cumprir os 50 dias de tarefas ou as mortes não estão relacionadas como o jogo.

6 – O jogo acontece pelo Messenger, WhatsApp ou é um aplicativo?

Definitivamente, não é um aplicativo próprio. Se fosse, seria muito facilmente rastreado pela polícia. Na Rússia, as comunidades conversavam sobre suicídio pelo VKontakte. No Brasil, é possível ver grupos de Facebook e WhatsApp relacionados ao assunto.

Detalhe: os “grandes grupos” chamados Baleia Azul no Facebook (como um com 59 mil membros) eram outros grupos que só trocaram o nome para seguir a modinha. Ou seja, não tem nada a ver com o jogo.

Vale pontuar que mais importante do que a plataforma em que as conversas se desenvolvem é saber que não vale a pena entrar em um jogo no qual você só tem desvantagens.

7 – Por que os curadores fazem isso com as crianças?

É difícil uma explicação lógica, assim como é difícil saber por que adolescentes realizam bullying com outros adolescentes. Pode ser necessidade de autoafirmação, sadismo + irresponsabilidade, maldade ou até mesmo a incapacidade (em alguns casos) de ter noção de que a “brincadeira” pode acabar em morte + “vontade de zuar”.

Em um nível mais filosófico, o desafio da Baleia Azul pode ser um visto como reflexo da sociedade que temos hoje. Mas é difícil dizer que, se outras gerações tivessem acesso a tanta informação (boa e ruim) e facilidade de comunicação privada, desafios como esse não teriam prosperado.

8 – Como se dá o contato entre os jovens? Curadores procuram as crianças/adolescentes ou são as crianças que procuram o jogo?

No “exemplo” russo, as pessoas entravam em comunidades. Mas como não há “regras claras” sobre o Baleia Azul (mais um motivo para não ser chamado de jogo), cada um tem feito “do jeito que quiser”.

Vale apontar que muitos dos “links enviados” para as pessoas entrarem em grupos são “trollagens” por parte de imbecis que tomam coragem com o anonimato da internet.

Vale reforçar também que, caso você receba um link, pode facilmente não aceitar o convite e bloquear o remetente. Tanto o Facebook como o WhatsApp proporcionam recursos assim.

9 – Se as regras não forem cumpridas, o aliciador vai atrás dele e da família?

Definitivamente, não. A tese surgiu após uma reportagem que apontou que um curador disse que “as pessoas não podem sair depois que entram no jogo”. Só que a mesma matéria disse que os curadores deixaram de entrar em contato com os repórteres após eles terem mandado uma foto modificada digitalmente. Ou seja, ninguém foi “atrás da família” do jornalista.

O perfil de quem realiza o desafio é de adolescentes, normalmente, sem antecedentes criminais. A própria distância física entre curador e participantes também é um dificultador para que seja realizado algum crime. Desmentimos este boato com mais detalhes neste link.

10 – Os curadores podem ser punidos criminalmente no caso de suicídio?

Sim. Caso seja comprovada a responsabilidade de alguém no jogo, o crime de incitação ao suicídio (art. 122 do Código Penal) pode ser aplicado. A pena é de dois a seis anos no caso de morte e de um a três anos no caso de lesão corporal grave. Se a vítima dor menor de idade, a pena é dobrada.

Caso haja ameaça ou coação por parte dos curadores, os crimes de constrangimento ilegal e ameaça também poderão ser aplicados. A pena para constrangimento ilegal é de dois meses a um ano e de ameaça é de um a seis meses. Ou seja: além de ser uma idiotice, ser curador do Baleia Azul é crime.

11 – Quantos casos de suicídios com ligação ao Baleia Azul aconteceram até hoje?

Exterior: Até a história chegar até mídia, não havia confirmação de nenhum caso relacionado à Baleia Azul. Depois da “divulgação” do Baleia Azul, alguns casos eclodiram. Os que mais chamaram atenção foram os de Yulia Konstantinova (15 anos) e Veronika Volkova (16). Elas se suicidaram após publicarem posts relacionados ao jogo. Porém, não há um número exato de mortes atribuídos ao desafio. E também não se sabe se todos que se suicidaram “cumpriram as 50 tarefas”.

Brasil: Há diversos casos suspeitos de suicídios ou tentativas de suicídio ligados ao Baleia Azul. Em uma pesquisa rápida, encontramos suspeitas de tentativas de suicídio ligadas ao desafio em todas as regiões do Brasil. Há suspeitas de mortes em Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Pernambuco.

Até o dia 24 de abril de 2017, a polícia não havia confirmado nenhum caso de morte relacionado ao jogo no Brasil. Porém, foram confirmados alguns casos de tentativas de suicídio no Paraná, Rio de Janeiro e outros estados. Existem, inclusive, casos suspeitos que foram refutados.

12 – As fotos de brasileiros que circulam no WhatsApp são reais?

A foto de automutilação que mais circula na internet não é do Brasil. Ela foi utilizada em reportagens sobre casos do jogo na Rússia. Outra foto popular é de uma menina filipina que brigou com o namorado e se automutilou em 2015. Ou seja, pelos menos as fotos mais populares que ilustram matérias e posts sobre o jogo não são do Brasil.

13 – O que sido tem feito para se combater essa loucura?

Passadas quase duas semanas após o início do “buzz” sobre o assunto no Brasil, algumas ações têm sido feitas para tentar minimizar o acesso ao desafio. A polícia tem fechado o cerco e investigado supostos casos ligados ao Baleia Azul. Organizações de combate ao suicídio têm sido divulgadas para evitar novos casos.

Uma parte da imprensa tem tentado fazer a cobertura de forma responsável. Neste momento, é mais importante explicar como funciona o fenômeno e desmistificar informações fantasiosas do que relatar, de forma alarmista, casos que são suspeitos (não confirmados) de estarem ligados ao jogo. Alguns (não todos) têm feito isso.

Parte dos internautas também têm realizado ações para combater o crescimento da Baleia Azul (como a ideia do Baleia Rosa). Tratar o assunto com seriedade, sem pânico e não deixar boatos se disseminarem é um dos melhores caminhos para isso.

14 – Qual a real gravidade do jogo?

O principal problema não está na Baleia Azul. De acordo com a OMS, uma pessoa tira a própria a cada 40 segundos no mundo. Em 2012, foram 800 mil suicídios. Ou seja, mesmo que a Baleia Azul, infelizmente, represente algumas dezenas de mortes, ela não é a principal causa de suicídios no mundo. Os problemas são muito mais graves e profundos.

A depressão e frustrações da vida são as principais causas de suicídio. Muitas vezes, a depressão é tratada “como frescura” por algumas pessoas. Porém, é uma doença e necessita de um tratamento químico e psicológico. E muitas vezes, para cometer a besteira de se matar, a pessoa que já tem predisposição só precisa de um gatilho. É aí que entra o desafio.

Ao contrário do que se fala na internet, é improvável que uma pessoa que não tenha tendências suicidas tire a própria vida só com o Baleia Azul. Por outro lado, participar de um jogo cujo a pauta principal é o suicídio pode potencializar a ação. Neste sentido, algumas pessoas podem, de fato, terem tirado a própria vida por causa do desafio. Detalhe: as vítimas podem ter realizado a ação sem mesmo cumprir as 50 tarefas.

15 – O que eu posso fazer para acabar com o jogo da Baleia Azul?

Há algumas ações que você pode fazer para acabar com o Baleia Azul. A primeira e mais óbvia é não jogar e nem incentivar que se jogue (nem que seja de brincadeira). A segunda é evitar gerar pânico ou mesmo tratar o jogo como algo sobrenatural. Esse tipo de ação apenas ajuda a aumentar o fascínio sobre ele.

Você pode dialogar com as pessoas mais próximas a você (principalmente se forem adolescentes). Se você for amigo do seu filho (ou seja qual for o seu parente), ele vai ter confiança de te contar os problemas. O mais importante é falar sobre o assunto e, se preciso, procurar atendimento médico. É importante saber que a morte não é uma saída.

No Brasil, pode se procurar ajuda no CVV pelos telefones 141 ou 188 (caso você seja do Rio Grande do Sul) caso você precise de alguém para conversar. Por fim, caso você veja alguém usando de má-fé e incentivando pessoas a jogar, denuncie. A denúncia pode ser feita em um âmbito mais macro (polícia) ou mesmo na rede social que está sendo utilizada. Se tudo isso for feito, logo baleia azul será lembrado apenas o maior animal do planeta.