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Dra. Juliana Miguita diz, em áudio, que cebola na geladeira é um veneno #boato

Boato – A médica Juliana Miguita gravou um áudio alertando que colocar cebola na geladeira é um perigo porque ela é um veneno por ser um imã de bactérias da gripe.

“O ano era 1919 e o mundo vivia uma epidemia de gripe blá blá blá”. Essa mesma história, que fala de um fazendeiro que teria se salvado da epidemia por espalhar cebolas no quarto (!), já foi desmentida diversas vezes por aqui. Só que ela (assim como um vírus da gripe) insiste em voltar a circular.

Na “versão de hoje”, a história ganhou força por causa do “crédito” dado a uma médica chamada Juliana Miguita. De acordo com a mensagem, a Dra. Juliana Miguita teria gravado um áudio no WhatsApp para alertar para os perigos da cebola e falar que espalhar as cebolas pela casa poderia ser uma saída para se livrar da “bactéria da gripe”. Leia e escute:

Confira o desmentido em vídeo

Escute o áudio até o fim . É importante . Quem o criou foi a Dra. Juliana Miguita – CRM n° 139995 . Pneumologista Infantil do Hospital Previna. O tema é a Cebola.

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Cuidado com as cebolas. Em 1919, a gripe matou 40 milhões de pessoas. Um médico visitou os agricultores, que tiveram o ataque, para ver se poderia ajudá-los a combater a gripe. Muitos dos agricultores e suas famílias, que haviam contraído a gripe, morreram. No entanto, o médico conheceu um fazendeiro cuja família era saudável e ninguém na casa pegou a gripe. O médico perguntou ao agricultor o que ele estava fazendo que era diferente dos outros. A esposa do fazendeiro respondeu que ela cortou uma cebola com casca em um prato e colocou em todos os cômodos de sua casa.

O médico pensou que poderia ter sido a cura, então ele pediu uma dessas cebolas. * Quando a colocou sob o microscópio, ele encontrou nela o vírus da gripe. * As cebolas, obviamente, absorveram todas as bactérias e, portanto, mantiveram a família saudável. Enviei esta história para um amigo no Oregon que regularmente me dá material sobre questões de saúde. Ele me respondeu com esta interessante experiência sobre as cebolas: Ele disse: Obrigado pelo lembrete.

Não conheço a história do agricultor, mas sei que também tive pneumonia e fiquei muito doente. Do meu conhecimento anterior de cebolas, cortei as duas pontas de uma cebola, a coloquei em um jarro vazio, e o coloquei ao meu lado durante a noite. De manhã, comecei a me sentir melhor, enquanto a cebola ficava preta. Muitas vezes quando temos problemas de estômago, não sabemos a que culpar. Talvez as cebolas que comemos antes, sejam as culpadas […]

Dra. Juliana Miguita disse, em áudio, que cebola na geladeira é um veneno?

Tá aí: mais uma vez, nos deparamos com a mesma ladainha de sempre. A única diferença foi a inclusão do nome da Dra. Juliana Miguita. Mas será mesmo que a história da cebola procede e será que a tal médica gravou o áudio. A resposta para a primeira pergunta é não. A resposta para a segunda também é não.

Como dito no início do texto, já desmentimos a mesma história diversas vezes (estamos até produzindo um vídeo sobre o assunto. Aguardem). Por isso, vamos repetir aqui a mesma explicação sobre cebolas que apresentamos em outras oportunidades e a já volta para falar da autoria:

O texto não cita muitos detalhes fiáveis. Não diz onde aconteceu esta história, quem era o médico e quem era o pneumologista que comprovou a tese da cebola como imã de bactérias. Em uma época que o mundo estava sendo assolado por uma pandemia, com certeza essas pessoas ficariam famosas como, por exemplo, Oswaldo Cruz, que difundiu a vacina contra febre amarela no Brasil.

A mensagem também tem alguns erros de português e, principalmente, de concordância. Pior do que isso, o texto fala sobre “bactéria da gripe”. Na realidade, a gripe é uma doença causada por um agente viral, como pode ser visto no site do médico Dráuzio Varella. Isso mostra que o texto não foi escrito por um especialista.

Ao buscar alguma referência sobre a eficácia da cebola contra a gripe, não se encontra nenhum resultado. Uma matéria da Veja cita, inclusive, que comer cebola para prevenir gripe é mito.

Focando só na parte do “perigo da cebola”, podemos afirmar com base em três pontos que a história é falsa. O primeiro é que o texto não tem muita coerência. Qual a relação causa consequência da história de 1919 e a cebola ser fatal? Mesmo que o conto fosse verdadeiro (e não é), uma coisa não tem nada a ver com outra.

O segundo ponto está no número de mortes causadas por uma cebola cortada e consumida posteriormente. Sabe quantos casos existem no mundo relatados? Se você falou nenhum, acertou. Se você acredita que isso significa que o perigo não é tão grande assim, também acertou. Junte isso a um texto que não tem autoria e que “pede compartilhamento” (características de boatos) e temos mais uma balela.

Voltamos para falar da “parte” que atribui a autoria do áudio à Dra. Juliana Miguita. Dois motivos nos levam à conclusão de que é falso. O primeiro está em uma busca sobre as redes sociais da médica (que trabalha no Hospital das Clínicas). Por algumas oportunidades (2018 e 2019), ela negou a autoria do texto. Leia:

Versão 1 (2018): Pessoal…. eu nunca mandei/ compartilhei áudio sobre o uso de cebola guardada!! Está sendo repassado um áudio pelo whatsApp, como se eu tivesse recomendando o conteúdo do áudio! Eu acabei de ouvir esse áudio pela primeira vez agora e não sei quem pode ter vinculado meu nome a isso! Cuidado pessoas!!! Versão 2 (2019): Ola, passando novamente para reforçar que eu NÃO divulguei nada sobre a cebola!! Abaixo segue uma matéria “desmentindo” o fato!!!

O segundo motivo foi apresentado quando desmentimos que o mesmo áudio havia sido criado, na realidade, pela Dra, Marinella Della Negro. Relembre: “a gente sabe quem gravou o áudio. Trata-se da mesma mulher que espalhou histórias falsas como a que apontava que o Dr. Dráuzio Varella disse que mamografia causa câncer. Ou seja: é uma fonte manjada de fake news”.

Resumindo: mais uma vez aqui estamos aqui para falar que a lenda da cebola como imã de bactérias perigosa é falsa. E pela primeira vez estamos aqui para afirmar que a autora do áudio não é a médica Juliana Miguita. Fim (pelo menos por enquanto).

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.