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Dr. Steve Hotze está certo ao dizer que vacinas são, na realidade, terapias genéticas experimentais #boato

Dr. Steve Hotze está certo ao dizer que vacinas são, na realidade, terapias genéticas experimentais, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – O Dr. Steve Hotze está certo ao dizer que as vacinas são, na realidade, terapias genéticas experimentais. Em vídeo, ele explica que os imunizantes não atendem aos requisitos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para vacinas.

Após a corrida no mundo todo para encontrar uma vacina para barrar a Covid-19 e, agora, em pleno período de vacinação aqui no Brasil e em vários países contra a doença, a internet ainda está recheada de teorias conspiratórias negacionistas que visam persuadir os internautas a desacreditarem dos efeitos positivos dos imunizantes.

E em mais uma da série de histórias dessa categoria, uma publicação que começou a circular pelas redes sociais, especialmente Facebook e Twitter, está dando o que falar. A postagem dá conta que um médico norte-americana chamado Steve Hotze estaria certo ao dizer que as vacinas seriam, na realidade, terapias genéticas experimentais.

Segundo o médico, que explica a teoria em um longo vídeo (que não será exibido aqui), os imunizantes contra a Covid-19, na verdade, não são vacinas, já que sequer atendem aos requisitos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos para serem considerados vacinas.

Vídeo: desmentimos fake que Hungria descobriu plano de matar Bolsonaro

No mesmo vídeo, o sujeito afirma que, por esta razão, elas não oferecem nenhuma imunidade contra o coronavírus ou evitam a disseminação da Covid-19. Mais que isso, ele ainda confirma que os imunizantes seriam ainda mais perigosos do que a doença, uma vez que vários animais morreram durante os testes infectados com coronavírus, e que, portanto, haverá mortes meses depois que as pessoas tomarem as vacinas.

Para ele, a imunidade de rebanho seria o melhor caminho para vencer o vírus e acabar com a pandemia. O vídeo com a fala do Dr. Steve Hotze viralizou rapidamente, especialmente entre internautas e páginas antivacinas. Confira, a seguir, as versões do texto original das publicações que estão rodando online:

Confira o desmentido em vídeo:

Versão 1: O Dr. Steve Hotze, de Houston, Texas, é demolidor quando fala sobre as terapias genéticas experimentais apelidadas de “vacinas” contra a peste chinesa. (Veja o vídeo e repasse para seus amigos e contatos!) Versão 2: Dr. Steve Hotze fala da terapia genética experimental, chamada enganosa mente de vacina contra a covid

Dr. Steve Hotze está certo ao dizer que vacinas são, na realidade, terapias genéticas experimentais?

A teoria do médico americano colocando em dúvida a eficácia dos imunizantes contra a Covid-19 rendeu vários compartilhamentos e debates nas redes sociais. No entanto, assim como no caso de outras teorias contra as vacinas, a história não procede.

E desconfiamos disso, para começo de conversa, por conta do vasto e recente histórico de boatos que vem surgindo dia a dia na web contra as vacinas. A maioria deles vem de figuras que se apresentam como especialistas, mas não passam de negacionistas e antivacinas tentando atrapalhar a vacinação da população. Ou seja, não devem ser levados em conta.

Um detalhe que nos chamou bastante atenção na versão “brasileira do vídeo” é que a fala do médico se limita às vacinas fabricadas a partir de tecnologia mRNA, como é o caso da Pfizer/BioNTech. No entanto, vale lembrar que as vacinas que estão sendo aplicadas aqui no Brasil, como a CoronaVac ou da AstraZenca/Oxford, não são do tipo mRNA. Ou seja: as teses nem se aplicariam à realidade daqui se fossem reais.

Outra coisa sobre a versão brasileira é que o nome do médico está sendo grafado de forma errada, sem o “N”. Na verdade, a forma correta de se escrever é Steven Hotze. Ele que já é conhecido pelo histórico de informações erradas repassadas sobre a pandemia (traduzimos algumas delas aqui):

Em março de 2020, Hotze afirmou que a doença Covid-19 foi uma invenção do “deep state” projetado para sabotar a presidência de Donald Trump. Mais tarde, Hotze moveu pelo menos oito ações judiciais desafiando as medidas de saúde pública adotadas pelo Estado do Texas, Condado de Harris, Texas e cidade de Houston para prevenir a propagação do vírus. Em abril, ele processou Lina Hidalgo, a juíza do condado de Harris, Texas, por obrigar o uso de máscaras faciais. O pedido de Hotze para bloquear a ordem do condado foi rejeitado pelo tribunal. Em junho, ele entrou com uma ação contra o governador do Texas Greg Abbott, alegando que o rastreamento de contato violou as disposições da Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, privacidade, processo devido e proteção igualitária, e que a exigência de máscara facial em todo o estado do governador era ilegal. Hotze também processou a Abbott por suas ordens executivas fechando negócios não essenciais durante a pandemia e processou a cidade de Houston por sua decisão de impedir o Partido Republicano do Texas de realizar uma convenção pessoal no Centro de Convenções George R. Brown durante a pandemia; ambos os processos foram indeferidos”.

Não à toa, essa história envolvendo o vídeo do Dr. Hotze já foi desmentida em outros idiomas, por outras agências de checagem, como a AFPBoom e Fact-Check.org. Além disso, muitas das teses argumentadas por ele também já foram desmentidas aqui no Boatos.org. Para refrescar a sua memória, vamos explicá-las novamente em tópicos:

Fake #1 – A vacina não é vacina, e sim uma terapia genética experimental

Para começar, a teoria central da fala do sujeito não passa de uma ilação. Isso porque as vacinas do tipo mRNA, às quais ele se refere quase que integralmente ao longo do vídeo, não teriam como ser “terapias genéticas experimentais”, uma vez que não conseguem fazer alterações genéticas nas células e sequer atuam sobre o DNA humano. Falamos sobre isso neste trecho de um de nossos posts sobre o assunto (você pode ler em detalhes aqui):

[…] E como essa vacina funciona no nosso organismo? Essa questão é facilmente respondida pelo canal de divulgação científica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). A doutora e professora de imunologia da UFVJM, Leida Calegário, explica que as nanopartículas de gordura que carregam o mRNA do vírus se fundem facilmente com as membranas das nossas células. O mRNA do vírus, então, entra na célula e se dirigem aos nosso ribossomos. A partir daí, o mRNA do vírus induz os ribossomos a produzirem proteínas do tipo spike (comuns em vírus, mas não fabricadas pelo organismo humano). Dessa forma, as proteínas Spike são reconhecidas pelo sistema imunológico como algo fora do normal. Esse processo induz o sistema imunológico a produzir uma resposta imunológica, não só por meio de anticorpos, mas também por meio do LTCD8+ (um tipo de linfócito citotóxico que é capaz de destruir células onde ele identifique a presença de proteínas estranhas, como a Spike, levando à eliminação do vírus), induzindo à memória imunológica (quando o organismo sabe identificar o invasor e eliminá-lo). Entretanto, vale ressaltar que esse tipo de tecnologia é nova e nunca foi usada antes.

A partir daí, fica fácil entender que não é possível que a vacina induza novas infecções por Covid-19, uma vez que a vacina possui apenas o mRNA de uma proteína específica do vírus e não seu RNA completo. O mesmo vale para a teoria de alteração de DNA e “seres geneticamente modificados”. O DNA humano continua intacto. A mRNA do vírus, contido na vacina, vai atuar somente na tradução da informação, ou seja, no ribossomo e não no núcleo das nossas células (onde fica o DNA). O mRNA do vírus vai produzir uma proteína estranha para que o sistema imunológico gere uma resposta imune, aprenda a combater o “agente estranho” e memorize esse processo de “defesa” para repetir em novos ataques. Uma mutação a nível de DNA precisaria de muito mais, como uma exposição à altas doses de determinados tipos de radiação, por exemplo. […].

Fake #2 – A vacina não oferece imunidade ou evita disseminação da doença

Mais uma informação errada. A verdade é que os imunizantes são mais confiáveis e seguros contra a Covid-19 pelo fato de gerarem respostas de anticorpos e células T, que são muito mais fortes e consistentes do que a imunidade oriunda de infecção natural.

Na prática, isso quer dizer que, ao se vacinarem, as pessoas podem obter uma maior quantidade de anticorpos e passarem maiores períodos imunes à Covid-19 (estudos apontam para até quatro meses após receberem a primeira dose), além de haver uma menor probabilidade destas transmitirem o vírus a outras pessoas ao seu redor.

Fake #3 – A vacina é mais perigosa do que a Covid-19 por enfraquecer o DNA

Essa história de que vacinas do tipo mRNA podem alterar geneticamente o DNA é quase tão velha quanto a própria pandemia (e já foi desmentida várias vezes aqui no Boatos.org). Como já explicamos, a vacina do tipo mRNA não consegue alterar ou “enfraquecer” o DNA, uma vez que não promove alterações no núcleo da célula (onde se encontra o DNA).

O mRNA é um tipo de RNA que tem como função levar a mensagem do DNA ao ribossomo para a correta síntese proteica. A vacina do tipo mRNA contém o mRNA do gene que codifica a proteína Spike (utilizada pelo novo coronavírus para se ligar e entrar nas células humanas). Você pode relembrar tudo o que foi falado aqui.

Fake #4 – Animais morreram em testes da vacina mRNA por infecção por coronavírus

Mais um furo na fala do sujeito. Na verdade, nenhuma pesquisa ou estudo usou vacinas de mRNA ou resultou na morte de animais. Como explicamos neste post, um artigo intitulado “A imunização com vacinas contra o Coronavírus SARS leva à imunopatologia pulmonar no desafio com o vírus SARS”, que pode ser acessado aqui e aqui, chegou a pesquisar ratos vacinados que, mais tarde, foram expostos a um vírus vivo da SARS.

Mas os animais não morreram, como afirma o médico. Na verdade, os ratos imunizados produziram anticorpos fortes que protegem contra a infecção, segundo o prof. Chien-Te Tseng, responsável pelo estudo. O que houve foi que, quando os animais foram expostos ao vírus vivo, desenvolveram eosinofilia (uma alta contagem de um tipo de glóbulos brancos), mas, apesar disso, os ratos sobreviveram à infecção e não apresentaram perda de peso ou outros sinais da doença.

Fake #5 – Deveriam haver testes em humanos antes da aplicação

Todas as vacinas contra a Covid-19 foram testadas em humanos antes da vacinação, inclusive, os imunizantes de Oxford e Coronavac, que estão sendo aplicados aqui no Brasil. As vacinas não só passaram pelos testes como foram aprovadas e liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a imunização da população.

Fake #6 – Haverá mortes meses depois de quem tomar vacina

Também já desmentimos essa bizarrice em outro artigo. E nem precisamos argumentar muito contra a fala do Dr. Steven, já que os números por só derrubam essa tese.  Ao todo, mais de 475 milhões de doses da vacina já foram aplicadas. 

Se fizermos cálculo bem do “basicão” (sem levar em conta variáveis), podemos aferir que temos, no mínimo, 237 milhões de pessoas que receberam ao menos uma dose. Com isso, teríamos, no mínimo, 71 milhões de pessoas mortas por causa da vacina. Não é preciso nem dizer que não temos (nem de perto) um número como esse (nem em mortos por Covid-19).

Fake #7 – Imunidade de rebanho é o ideal e devemos jogar todo mundo na rua sem vacina

Neste trecho (revoltante, diga-se de passagem) do vídeo, o Dr. Hotze praticamente afirma que é preciso deixar que este vírus contamine toda a sociedade para que possamos desenvolver imunidade de rebanho e, assim, nos mantermos seguros no futuro.

Porém, o “doutor” não levou em conta que milhares de pessoas teriam que morrer até que a imunidade coletiva acontecesse e, ainda, correndo o risco desta sequer funcionar, já que estamos diante de um inimigo desconhecido e passível de mutações.

Vários especialistas já explicaram que o coronavírus é perigoso e ainda não se sabe ao certo os seus efeitos no organismo. O que se sabe até agora é que vários órgãos do corpo humano podem sofrer danos a longo prazo com a Covid-19, fora a questão dos sintomas de longa duração que algumas pessoas têm apresentado.

Ou seja, ao optar-se pela imunização da sociedade de forma natural, levaria anos até a medicina descobrir os efeitos a longo prazo da doença. Em contrapartida, embora os efeitos da vacinação ao longo do tempo também não sejam totalmente conhecidos, vários ensaios clínicos envolvendo centenas de milhares de pessoas estão mostrando que a vacina é segura e eficaz, dois critérios importantes para o desenvolvimento de imunidade segura do rebanho.

Resumindo: A publicação que dá conta de que o Dr. Steve Hotze estaria certo ao dizer que as vacinas são, na realidade, terapias genéticas experimentais, é falsa. No vídeo, ele se refere aos imunizantes do tipo mRNA (que sequer são as que estão sendo usadas na vacinação aqui no Brasil) e, mesmo assim, todas as teorias que ele levanta sobre o assunto (quando diz que a vacina não é vacina, que é perigosa, que não foi testada em humanos ou que animais morreram após os testes, entre outras) já foram desmentidas. Ou seja, não passa de mais um negacionista jogando informações comprovadamente falsas na internet!

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164. 

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