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Bolsonaro fez pronunciamento enigmático sobre dias difíceis hoje #boato

Bolsonaro fez pronunciamento enigmático sobre dias difíceis hoje, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Hoje, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento enigmático. Ele disse que está passando pela pior fase do governo, que dias difíceis vão vir e denunciou que a China está desabastecendo o Brasil.

A decisão de Bolsonaro de cancelar um acordo que previa a compra, por parte do governo, de 46 milhões de doses da vacina Coronavac, contra a Covid-19, deixou muita gente perplexa. Em meio a isso, uma mensagem que tenta “justificar” a decisão do presidente começou a viralizar.

De acordo com o texto, Bolsonaro teria feito um pronunciamento enigmático “hoje” (dia 21 de outubro) no qual teria falado que essa é a pior fase do governo, que dias difíceis vão vir, que ele “tomará decisões de soldado” (seja lá o que isso signifique) e que o “pior é a indecisão”.

O texto segue com uma denúncia contra a China. De acordo com a mensagem, o país asiático acabou com a resina plástica do Brasil, com a soja, arroz, açúcar e outros produtos. O texto aponta, ainda, que os chineses contam com a ajuda do STF e de governadores para desabastecer o Brasil e derrubar o governo. Leia a mensagem que circula online:

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IMPORTANTÍSSIMO ! NÃO DEIXEM DE LER ! Hoje, dia 21 de outubro, Bolsonaro fez um pronunciamento enigmático, dizendo que está passando pela pior fase de seu governo e que dias difíceis estão por vir. Disse ainda que ele tomará as decisões necessárias de um soldado, pois a pior atitude é a indecisão. Faz sentido agora o texto abaixo que acabo de receber.

Sabem pq tudo está subindo?? Não tem mais resina plástica, polietileno matéria prima básica para indústria de plástico no mercado. Está tudo na mão dos Chineses. A China têm o monopólio da resina. Tudo que foi importado é dominado pela Braskem da Odebrecht. Em pouco tempo, uns 40 dias a indústria vai parar . Só a Coca mar tem óleo de soja para vender. A produção inteira de soja do Brasil está comprada pela China até 2022. Ou seja, quem tem o profuto é que vai decidir o preço que vai vender. ENTRE 60 E 90 DIAS NÃO HAVERÁ MAIS CARGA PARA CARREGAR. A China vai derrubar o Brasil pela escassez de alimentos. Não é atoa que aumentaram a quarentena. A técnica é vencer pelo cansaço e pela falta de fôlego econômico. Arroz, açúcar, óleo… estão subindo absurdamente. Então: auxílio acabando e comida aumentando vai acabar com o fôlego econômico do Brasil.

Está é a estratégia de governadores, China, STF, Congresso… Um protege o outro e todos agem contra o Brasil e contra os brasileiros. Todos estão postando na ruína econômica. Faltando emprego e comida, o povo tende a se revoltar contra o Governo. Aí eles conseguem derrubar o presidente com impeachment. Aí cai Bolsonaro e Morão e fica o Maia. Limpam a ficha do larápio e ele voltaria como Salvador da Pátria. Se, cruzarmos os braços vamos virar uma Venezuela. Por isto Dória disse que a popularidade de Bolsonaro vai só até novembro. ATENÇÃO! REPASSEM PELO AMOR DE DEUS. ATENÇÃO: copie e cole para poder repassar de 5 em 5 pessoas.

Bolsonaro fez pronunciamento enigmático sobre dias difíceis, decisões de soldado e China?

O que não faltaram foram mensagens sendo compartilhadas nas redes sociais, e principalmente, no WhatsApp sobre o tal pronunciamento de Bolsonaro. Só há dois problemas nisso: 1) As acusações contra a China não são reais (inclusive já foram fruto de outros desmentidos do nosso site). 2) Bolsonaro não fez tal pronunciamento sobre “dias difíceis”, “decisões de soldados” e acusações contra a China (pelo menos não essas).

Vamos começar para segunda parte do texto (relacionada à China). Trata-se de uma mistura de dois textos que já circulavam em redes bolsonaristas desde setembro deste ano. Isso anula qualquer chance de Bolsonaro ter dito tais palavras em outubro. Para além disso, as acusações contidas no texto são falsas. Como a explicação de outrora vale para hoje, relembre o que escrevemos sobre o assunto.

Texto sobre resina da China: a história de hoje tem algumas inverdades. A primeira delas é a que fala que a China tem o “monopólio” do plástico. Assim como no caso de outros produtos, é verdade que o país é líder mundial, mas não significa que seja o único.

Na realidade, o Brasil é um dos quatro maiores produtores de plástico do mundo, com 11,355 milhões de toneladas, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia, de acordo com dados do WWF (Fundo Mundial para a Natureza) com números do Banco Mundial.

Sendo assim, o mercado interno é, na maioria das vezes, suprido. Inclusive, em uma entrevista, o representante de uma distribuidora da Braskem deixou claro que não faltou resina plástica nem mesmo no auge da pandemia. Prova disso é que só no primeiro semestre deste ano, o volume da produção de embalagens flexíveis pela indústria brasileira ultrapassou um milhão de toneladas.

Ou seja, tudo isso derruba a tese de que dependemos da China para produção de plástico e de que tivemos problemas na indústria pela falta de resina. Por fim, outra inverdade da publicação que está sendo compartilhada é sobre a China ter comprado a Braskem. A empresa brasileira produtora de resina termoplástica pertence aos grupos Oderecht e Mariani, que são brasileiros. Não tem nada a ver com qualquer empresa chinesa.

Texto sobre soja e caminhoneiros: a informação sobre o plano maléfico não passa de uma tese falsa baseada em algo real. A parte real é que a China tem, de fato, comprado muita soja do Brasil. De acordo com essa matéria do site do Canal Rural, a China comprou US$ 24 bilhões entre janeiro e julho da soja brasileira.

Como explica a matéria (e tantas outras), a compra em massa nada tem a ver com um plano para derrubar Bolsonaro. Na realidade, a China passou a comprar mais soja do Brasil por três motivos. 1) Valorização do yuan (moeda da China) no mercado internacional. 2) Pandemia da Covid-19 e guerra comercial com os EUA, que fizeram o país asiático temer por um desabastecimento. 3) A supersafra de soja do Brasil em 2020.

É fato que a compra da China impactou na queda da oferta do produto no Brasil e alta de preços. Tanto que, em agosto, o volume exportado do Brasil para a China diminui. Porém, isso não significa, necessariamente, que o Bolsonaro será prejudicado. Há três motivos para isso.

O primeiro é que a exportação em massa do produto para a China ajudou a queda recorde do PIB brasileiro (9,7% no segundo trimestre). Por causa da compra da China (entre outras coisas), o agronegócio foi o único setor que não teve queda no PIB no trimestre.

O segundo motivo é que a compra da produção brasileira até 2022 é uma boa para a China e para produtores brasileiros. Além de garantir um lucro por produção em um momento de crise, os produtores conseguem se beneficiar da alta recente do dólar (que, de acordo com indicadores econômicos, deve cair no futuro). Ou seja: não é só a China que quer comprar. O Brasil também quer vender.

O terceiro motivo é que Bolsonaro quer vender para a China. Isso ficou explícito durante encontro dos chefes dos Brics em 2019 e na crise gerada por acusações de Eduardo Bolsonaro contra o governo chinês em março deste ano. Na ocasião, aliados do presidente o pressionaram a retomar o diálogo para que as exportações não fossem prejudicadas.

Para terminar, tem mais uma informação sem lógica: sobre os caminhoneiros não terem mais trabalho por causa das exportações para a China. Vamos pensar: a soja vai para a China em navios cargueiros. Antes disso, tem que sair do produtor e ir para os grandes portos. Quem leva? Os caminhoneiros, certo. Então, se aumentar a exportação, as cargas também aumentarão.

Já deu para ver que nem Bolsonaro fez tais acusações contra a China tampouco que o país asiático é responsável pelo desabastecimento de produtos do Brasil ou tem o “monopólio da resina plástica”. Mas ainda falta explicar sobre a “primeira parte do texto” (sobre o “pronunciamento enigmático”). Assim como a fala sobre a China, ela não surgiu do presidente.

Resolvemos buscar pelas declarações de Bolsonaro no “hoje” citado na mensagem (em 21 de outubro) e nada encontramos sobre ele ter falado sobre “dias difíceis”, “decisões de soldado” e “pior momento do governo”. No dia, ele, além de ele falar sobre o cancelamento de acordo com a vacina da China, participou de dois eventos.

O primeiro deles foi na cerimônia de abertura da primeira linha de luz do acelerador de partículas Sirius, em Campinas (SP). Como vocês podem ver neste link, o presidente não falou, em nenhum momento, sobre os tais “dias difíceis” e “atitudes de soldado”. O segundo evento no qual Bolsonaro participou foi uma visita às instalações do Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP), em Iperó (SP). Lá, Bolsonaro também não falou nada sobre o que está escrito no texto em questão.

Resumindo: nem a China tem o monopólio da resina no mundo ou é responsável por um plano de desabastecimento para derrubar Bolsonaro tampouco o presidente falou isso ou fez um “pronunciamento enigmático” sobre o “pior momento do governo”, “dias difíceis” e “decisões de soldado” no dia 21 de outubro de 2020.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.

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