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Fábio Porchat lança filme com apologia à pedofilia na Netflix #boato

Fábio Porchat lançou filme com apologia à pedofilia na Netflix, diz boato (Foto: Reprodução/Facebook)

Boato – Fábio Porchat e Danilo Gentili lançaram um filme com o nome de “Como se Tornar o Pior Aluno na Escola” na Netflix. Ele tem uma cena que faz apologia à pedofilia.

Não foram uma ou duas vezes que falamos que questões sensíveis vão dominar o debate neste ano de eleições no Brasil. A estratégia adotada por grupos autodenominados conservadores tem, basicamente, dois objetivos: 1) Desviar a atenção e dominar o debate público. 2) Fazer com que as pessoas tenham a impressão (errada) que existe um grupo “do mal” que quer acabar com a moral e bons costumes da sociedade.

Essa estratégia foi colocada em prática (com extremo sucesso) no domingo (13 de março de 2022), um dia antes da morte de Marielle Franco completar quatro anos e em meio a uma crise no preço dos combustíveis no Brasil. Diversas publicações em redes sociais começaram uma onda de ataques frontais à Netflix, ao apresentador Danilo Gentili e, principalmente, ao ator, Fábio Porchat.

O motivo dos ataques é uma cena do filme “Como se Tornar o Pior Aluno na Escola”, lançado em 2017 e que entrou no catálogo da Netflix no início deste ano. Na cena (que não iremos exibir aqui), um personagem interpretado por Fábio Porchat incentiva dois meninos a o masturbar.

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Junto ao vídeo, começaram a circular mensagens que apontavam que o filme da Netflix estaria fazendo “apologia à pedofilia” e que Fábio Porchat seria o grande responsável por isso (curiosamente, a maioria das pessoas que compartilharam a informação focaram em Fábio Porchat e “se esqueceram” de Danilo Gentili). Leia algumas das mensagens que circulam online:

Versão 1: Atenção, Pais! Vigiem o que seus filhos estão assistindo na Netflix. O filme, com Fábio Porchat faz apologia à pedofilia, e tem classificação indicativa pra crianças de 14 ano. Cuidado com as coisas que seu filho assiste! Versão 2: Filme da Netflix com Fábio Porchat, faz apologia a pedofilia segundo várias autoridades públicas! Cuidem de suas crianças!

Versão 3: NÃO MEXAM com NOSSAS CRIANÇAS. Não vi e não gostei. O filme dos nefastos Danilo Gentili e Fábio Porchat faz apologia ao abuso infantil! “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, de 2017, mas que entrou recentemente no catálogo da Netflix, apresenta cenas asquerosas de pedofilia. Além de atuar na comédia, o repugnante Gentili é um dos roteiristas. Processo nele!

Versão 4: VOCÊ QUE É PAI E MÃE. FILME DISPONÍVEL NA NET FLIX : ” COMO SE TORNAR O PIOR ALUNO DA ESCOLA “. ESSE É O ATOR FÁBIO PORCHAT…QUE É CONTRA O GOVERNO BOLSONARO ( #ELENÃO ) FAZENDO APOLOGIA AO SEXO INFANTIL/ EROTIZANDO PRECOCEMENTE AS FUTURAS GERAÇÕES.!!!

Fábio Porchat lançou filme com apologia à pedofilia na Netflix?

Como é possível de se ver (pelo menos se você acessou a internet nos últimos dias), o assunto gerou polêmicas imensas. Porém e apesar das inúmeras ressalvas (que faremos mais a frente), o debate está sendo conduzido de forma distorcida. E a maior das distorções é a que aponta que Fábio Porchat e o filme “da Netflix” fazem apologia à pedofilia na cena em questão.

Antes de falar deste ponto em especial, precisamos fazer uma contextualização e algumas ressalvas. Vamos, inicialmente, à contextualização do caso.

A cena em questão faz, de fato, do filme “Como se Tornar o Pior Aluno na Escola”, lançado no ano de 2017 e baseado em um livro de mesmo nome escrito por Danilo Gentili. No filme, Fábio Porchat (que não tem participação da produção) interpreta um sujeito pedófilo. A cena em questão é justamente uma dessas.

Já na época do lançamento do filme, a cena (opinião nossa: de gosto duvidoso e sem lá muita graça porque, de fato, não se trata de coisa “que se brinque”) causou polêmica. Uma delas foi com um repórter da Folha de S.Paulo que escreveu um artigo crítico ao filme. Depois de escrever o artigo que aborda justamente que o filme “ri de bullying e pedofilia”, Diego Bargas foi atacado em redes sociais.

Tachado de “esquerdista”, o jornalista acabou demitido do jornal por “quebrar uma norma interna” que vedava manifestações político-partidárias em redes sociais. Posteriormente, ele acabou ganhando (de acordo com essa matéria) uma indenização do jornal. Vale apontar que nenhuma das críticas na época (como a da Folha) apontava para apologia a pedofilia. As críticas se limitavam a falar do gosto duvidoso das piadas com assuntos sérios (o famoso “qual o limite do humor”).

Também é importante citar que os grupos conservadores que estão fazendo campanha em 2022 ficaram calados em 2017. Há inclusive, manifestações (como uma de Marco Feliciano que, sobre o filme, disse “Parabéns, Danilo Gentili. Há tempos não ria tanto” e de Carlos Bolsonaro que, classificou, após críticas da Folha, a obra de “bom filme”) de apoio.

O fato da direita ter “poupado críticas” (pelo contrário) sobre o filme coincide com o fato de, na época, Danilo Gentili ter o PT e a esquerda como o principal alvo de piadas e ataques.

O tempo passou, o filme deixou de ser assunto (por sinal, ele não foi o que podemos chamar de “sucesso”), Danilo Gentili passou a criticar o presidente Jair Bolsonaro e a obra entrou no catálogo da Netflix. Foi neste contexto, que grupos políticos voltaram a tocar no assunto em março de 2022.

Ao contrário da época do lançamento do filme, as críticas acabaram centralizadas na figura de Fábio Porchat (ator que interpretou o pedófilo no filme, mas não é o criador da obra) e a tese não era de que “Como se Tornar o Pior Aluno na Escola” não tinha apenas piadas de mau gosto e sim que fazia “apologia à pedofilia”. É neste contexto que a história entra na seara da desinformação.

Feitas todas as ressalvas já ditas (o filme, de fato, tem piadas de gosto duvidoso e que pedofilia é um tema que não mereceria ser abordado com humor), é importante citar que a acusação de “apologia à pedofilia” e a “culpa” para Fábio Porchat não se sustenta.

Para tanto, devemos nos ater à questão semântica (sim, é importante). O termo apologia, de acordo com o dicionário Oxford, carrega estes dois conceitos: 1) discurso ou texto em que se defende, justifica ou elogia (esp. alguma doutrina, ação, obra etc.). 2) defesa apaixonada de (alguém ou algo) [ger. pessoa singular, incomum]; elogio, enaltecimento.

Ao ver a cena, é possível ver que o filme não faz a tal defesa à prática. Pelo contrário, o sujeito em questão é um vilão e é ridicularizado e extremamente caricato. Vale lembrar que na “sequência da cena”, que foi cortada, as crianças saem correndo, o ato não se consuma e o pedófilo ainda “se dá mal”.

Em nenhum momento (nem mesmo na cena), a prática é apresentada como “algo bacana”. Vale apontar que o próprio Fábio Porchat se pronunciou a respeito da cena em entrevista ao jornalista Léo Dias. Veja o que ele disse:

Vamos lá: como funciona um filme de ficção? Alguém escreve um roteiro e pessoas são contratadas para atuarem nesse filme. Geralmente o filme tem o mocinho e o vilão. O vilão é um personagem mau. Que faz coisas horríveis. O vilão pode ser um nazista, um racista, um pedófilo, um agressor, pode matar e torturar pessoas

Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade. Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante.

Seguindo essa lógica, podemos citar que, por exemplo, um filme que tenha um vilão nazista não faz apologia ao Nazismo ou que um filme que tenha um assassinato “não-glamourizado” não faz apologia a morte.

Também é importante lembrar que, mesmo que o filme fizesse a tal apologia, não foi Fábio Porchat que escreveu a cena. A produção do filme é de Danilo Gentili (que também se defendeu das críticas) e, inclusive, Porchat teve que ser “convencido” (como aponta esse texto) de fazer a cena.

Neste sentido, aqui estamos para separar o joio do trigo. É fato que a cena (que foi compartilhada totalmente sem contextualização em redes sociais) é pesada e “brinca” com algo que não deve ser piada (o que justificaria muitas críticas). Porém, a acusação de “apologia à pedofilia” não se encaixa na obra. Sobre este tópico, o que temos é mais uma campanha orquestrada com fins políticos que visa desviar a atenção das pessoas e promover ataques a quem é crítico ao presidente.

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.

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