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Lei do farol ligado foi criada para aumentar número de multas #boato

Boato – Lei do farol baixo obrigatório em rodovias foi criada para aumentar quantidade de multas já que radares funcionam melhor se o carro estiver com farol ligado.

Quando alguma nova lei em relação ao trânsito entra em vigor, normalmente, o número de reclamações aumenta, e muito, entre motoristas. Aconteceu isso com o “Novo” Código de Trânsito, com a “Lei Seca” e está acontecendo com a lei que obriga que motoristas utilizem faróis dos carros acesos em rodovias. É claro que “denúncias” sobre o assunto também começam a aparecer.

Lei do farol ligado serve para facilitar aplicação de multas, diz boato
Lei do farol ligado serve para facilitar aplicação de multas, diz boato

A última delas foi um áudio que surgiu no WhatsApp. Um homem que diz ser “ex-comandante de operações de multas e recursos do estado do Paraná” aponta que a lei só foi aprovada porque radares conseguem funcionar melhor se os carros estiverem com o farol ligado. Transcrevemos o áudio. Leia:

Pessoal, aqui quem tá falando é o ex-comandante de operações de multas e recursos do estado do Paraná. Eu tô gravando este áudio aqui para denunciar aí o que vocês já sabem desta nova lei que obriga a utilização de faróis aí nas rodovias. O que que é esta lei? Eles inventaram a desculpa que é para aumentar a segurança, aumentar a visibilidade. Mas, na verdade, não existe nada disso.

Nenhum outro país do mundo é obrigatório utilizar os faróis ligados. Pode ver, Alemanha, Estados Unidos, Japão… nenhum é obrigatório usar. Ou seja, só no Brasil é perigoso. Lá nos outros países, que têm velocidades ainda maiores, não é perigoso. Mas porque que inventaram esta lei?

A questão é a seguinte: os radares móveis nas rodovias, eles têm um erro de cerca de 40% a 50% na detecção da alta velocidade. Com os faróis ligados, o farol funciona como uma espécie de ponto de referência pro laser conseguir detectar. Então, o erro cai pra 2%. Ou seja, o faturamento de multas, nesta época de crise aí, vai aumentar cerca de 40% a 50%. Vai aumentar porque agora vai ser muito difícil deixar escapar algum carro.

Então, este é o verdadeiro motivo da utilização dos faróis altos. Divulguem este áudio, a verdadeira sacanagem que está saindo aí. Dentro da cidade, parece que não é perigoso porque não é obrigatório usar os faróis ligados. Então dá para ver que… que… é falcatrua isso aí. Então tá pessoal, grande abraço, divulguem este áudio aí.

Lei do farol ligado serve para facilitar multas de radares?

A história viralizou pelo aplicativo graças às muitas pessoas indignadas com a “indústria das multas” que temos no Brasil. Mas será mesmo que esta denúncia faz algum sentido? A resposta é não. E para você entender melhor, vamos aos fatos.

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Para começar, a própria forma que a história se espalhou já denuncia que se trata de um boato. Até hoje, não encontramos uma denúncia sequer que surgiu de um áudio de WhatsApp e foi verdadeira. Para além disso, o caráter alarmista da mensagem e o pedido de compartilhamento (comuns em balelas online) denunciam que a história é falsa.  Mas isso é só o começo.

Quando analisamos o conteúdo do áudio, percebemos que ele não se sustenta. O primeiro ponto está na forma que o sujeito se apresenta (comandante). Para começar, o órgão que centraliza as multas em estradas do Paraná é o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), que faz parte da Secretaria de Infraestrutura e Logística. Ou seja, não é um órgão de hierarquia militar. Isso significa que não existe “comandante” e sim diretores. Além disso, não consta no DER um órgão com o nome citado no áudio.

O segundo ponto está no argumento de que em outros países não se usa a lei do farol em rodovias. Esta matéria, feita pela revista Auto Esporte, aponta que o projeto (agora lei) se baseou em estudos sobre acidentes no Japão e EUA. Mais do que isso, em muitos países da Europa é obrigatório o uso do DRL (Daytime Running Light), uma luz que fica na parte de baixo dos carros e é obrigatória para uso.

Agora o “furo da bala”: farol aceso ou apagado não influencia em nada se um radar é eficiente ou não. Isso porque, o radar funciona por meio de sensores eletromagnéticos que são afetados pelo movimento dos veículos (e não pela luz). Quando um carro passa próximo ao radar, o campo eletromagnético é influenciado e volta ao normal quando ele passa da área. A partir daí se calcula a velocidade em que o percurso foi feito. Esta matéria do Tecmundo explica melhor o funcionamento.

Só para sacramentar. Por mais que seja difícil de acreditar, dinheiro de multas não serve à indústria alguma. Isso porque tudo que é arrecadado não pode ser utilizado em áreas que não sejam ligadas à sinalização, engenharia de tráfego, policiamento, fiscalização e educação no trânsito.

Agora imagine se alguém fosse dar uma “pedalada fiscal” e usasse o dinheiro das multas para, por exemplo, pagar funcionários de outras áreas? Se você pensou, risco de impeachment, está certo. Ou seja, criar uma “indústria de multas” não é a melhor das ideias para os gestores.

Resumindo: a história que aponta que a lei do farol em rodovias foi criada para ajudar a radares a aplicar mais multas não só é falsa como também não faz nenhum sentido. É mais um dos boatos que circulam pelo WhatsApp neste Brasil afora.

Esse artigo foi uma sugestão dos leitores (e amigo) Leyberson Pedrosa, Marcelo Prado, Daniela Riegel e Eduardo Romeiro. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.