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Candidato do Enem finge que se atrasa, tenta pular portão e mídia cai no boato

Sem tempo para apurar direito uma informação e com uma pauta batida caindo no colo, jornais, TVs, rádios e portais de internet caem em brincadeira durante Enem.

Já é clássico. Todos os anos, a imprensa lança um monte de histórias de candidatos que se atrasaram na prova do Enem. Nos sábados e domingos do dia da prova, essa é a pauta que domina os noticiários e redes sociais antes da hora da correção dos exames. Já prevendo que a mídia estava sedenta por “boas histórias”, estudantes do curso de química da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) criaram um boato que foi incessantemente replicado.

Candidato do Enem tenta pular portão, diz pegadinha
Candidato do Enem tenta pular portão, diz pegadinha

A estratégia foi simples. Assim que os portões se fecharam, dois estudantes tentaram entrar correndo na ver a prova. Um deles não conseguiu e ficou choramingando (disso coisas como “eu odeio o Enem”). Outro fez uma simulação e subiu o portão da universidade da qual já é estudante. E foi essa história que explodiu.

Em poucos minutos, diversos veículos de mídia começaram a dar a informação de que “um estudante havia tentado pular os portões do Enem”. Veja só: Por meio do conteúdo da Agência Estado, a matéria chegou a portais como o UOL e Yahoo!. Por meio da Agência Brasil, a matéria chegou a sites como IG . Já o O Globo fez uma matéria por ele mesmo. Detalhe: tudo balela.

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Ao fim do mesmo dia, a página do Facebook “Coletivo Mariachi” mostrou como a farsa foi armada pelos estudantes:

SABOTANDO O ENEMOS FALSOS ATRASOS DO ENEMO Mariachi esteve no portão da UERJ nessa manhã (24/10) e presenciou o grande circo midiático. Tudo bem que foi uma brincadeira de dois garotos. Mas a mídia faz isso todo dia com você!Inverdades podem facilmente ser transformadas em verdades. E pior, divulgadas aos 4 ventos.Longe de querer fazer graça com quem chega atrasado, a mídia independente mais uma vez se colocou em um local que ela não é bem vinda. Jura que precisavam de mil câmeras pra registrar possíveis atrasos? E uma só fez desmoronar esse vil castelo de areia! Essas mesmas câmeras inventam outros mil cenários que nos é vendido dia a dia, cenários falsos, ou por parte das câmeras, ou por parte dos “atores”. Como fora o caso… O mídia ativismo ocupou aquele lugar majoritariamente hostil pra denunciar, como tem sido feito desde sua criação Olha como uma FALSA história pode ser amplamente divulgada: http://educacao.uol.com.br/noticias/agencia-estado/2015/10/24/quatro-alunos-chegam-atrasados-para-enem-na-uerj.htmhttp://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/estudantes-atrasados-perdem-enem-em-diferentes-cidades-17869318http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2015-10/no-rio-candidato-chega-atrasado-e-tenta-pular-portaoETC ETC ETC…é assim que funciona…CONFIRA!

Posted by Mariachi on Saturday, October 24, 2015

Fizemos uma busca rápida e confirmamos que realmente os alunos do vídeo da UERJ. Aliás, não fica explícito que o rapaz que tentou pular o portão estava fingindo, mas essa postagem na página da festa que eles fizeram a propaganda depois deixa bem claro (uma das pessoas que curtiram a foto é o próprio estudante). Ou seja, toda a mídia caiu em uma brincadeira sem ao menos pestanejar. Agora vamos a algumas considerações sobre toda essa história.

1 – A brincadeira pode ter sido de mau gosto e desrespeitado repórteres que perderam um fim de semana para fazer uma pauta batida (claro que muitos deles acreditam que a pauta é desnecessária, mas mesmo assim têm que fazer). Porém, ela serviu (e nem sei se era intenção) para mostrar o quanto o trabalho do jornalista é previsível.

2 – Na gênese, a pauta “estudantes atrasados” têm o caráter de alertar para que as pessoas prestem atenção e tomem cuidado para não chegar atrasado nas provas. Porém, é claro que essa gênese se perdeu. Na prática, a mídia quer histórias curiosas para conseguir angariar leitores.

3 – Casos como esse são importantes para pensar como a mídia pode ser uma potencializadora de boatos. E precisamos (jornalistas) tomar cuidado para temas como Coreia do Norte, Snapchat ou atrasos no Enem se tornem tão previsíveis que fiquem passíveis de brincadeiras a respeito.