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Análise: boato da mulher que roubava crianças acaba em tragédia em SP

Boato – Retrato falado na internet apontava que mulher roubava crianças para fazer rituais de magia negra no litoral de São Paulo

Um dos assuntos com mais repercussão na mídia nas últimas semanas é a morte de Fabiana Maria de Jesus. Ela morreu com 33 anos e condenada injustamente por algo que não cometeu: sequestrar crianças para realizar rituais de magia negra. O estopim do caso foi um boato que circulou na internet. Pessoas que viram uma história absurda na internet, sentiram o asco por uma mulher que nunca existiu (a que roubava crianças para sacrificá-las) e a condenaram a morte.

Como a história já é sabida por todos que acompanham os noticiários, não vamos falar sobre o caso e questão da péssima escolha de se fazer justiça com a próprias mãos (que também tem o apoio da internet do mal). Vamos nos ater “apenas” em outro grave problema: o boato que motivou a história.

A história tão absurda como tantas já apresentadas no Boatos.org (só para citar algumas: a do homem que roubava crianças, a do fiscal do IBGE que roubava casas ou da enfermeira que passava aids em exames de glicose). E, que, apesar de absurda, se tornou real no imaginário de muitos internautas.

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Explicando o boato em 2012, uma mulher no Rio de Janeiro foi acusada de tentar roubar um bebê e atacar um homem com um canivete. À época, a polícia fez um retrato falado dela. Por algum motivo, alguém pegou a foto desta mulher e aumentou a história. Passou a dizer que a mulher do tal retrato falado fazia rituais de magia negra com as crianças. A história se espalhou como rastilho de pólvora. Leia uma das versões do texto:

A mulher está sendo procurada por tentar seqüestrar uma criança em uma creche de Pontal do Paraná. Segundo informações, essa moça usa crianças para a prática de magia negra, e está sendo procurada pela Polícia por ser acusada de seqüestrar mais de 30 crianças.

A Polícia pede cautela e atenção aos pais, e qualquer informação da meliante deve ser repassada pelo telefone 190, pois ajuda no paradeiro da seqüestradora. Não é preciso se identificar.

Uma das postagens mais populares (não vou identificar o usuário que a fez) tinha 197 mil compartilhamentos. Analisando o perfil do garoto, a postagem estava entre tantas outras que falava de mulheres, relacionamentos e “pegação”. Ou seja, a nítida impressão é que ele ansiava por popularidade. Descobrimos que a história ganhou força em diversas regiões do Brasil.

Em Guarujá, a história virou tragédia. Talvez buscando popularidade, a página deu a história e a população acreditou que a mulher era mesmo sequestradora. O último ato da história foi o mais cruel. Um linchamento com a participação de adultos e crianças. Com a mesma agressividade de comentários do tipo “se eu pegasse ela, matava”, as pessoas a pegaram e mataram. O vídeo está na internet, mas não vale assistir. A história por si já suficiente para deixar alguém enjoado.

O pior é saber que toda essa história de horror poderia ser evitado com uma ferramenta bem simples: a informação. Este exemplo mostra o quão perigosa pode ser a desinformação. E tão perigosa quanto é a falta de interpretação dos fatos (ou no caso, boatos).

Resumindo a explicação do boato: um retrato falado da polícia do RJ acabou sendo usado para uma outra história que acabou espalhada em diversos estados do Brasil. E a história falsa motivou as pessoas a realizarem um massacre.

Mais uma vez, como integrantes de uma página que visa melhorar a qualidade do que é colocado na internet, pedimos encarecidamente: não acredite em tudo que você lê na internet. Desconfie, cheque e analise. Isso pode salvar uma vida. A história de Fabiana é uma exemplo disso.