Pular para o conteúdo
Você está em: Página Inicial > Política > Afinal, o que aconteceu na história de Dilma e o sacrifício do cão Nego?

Afinal, o que aconteceu na história de Dilma e o sacrifício do cão Nego?

Na última semana, uma das maiores polêmicas que girou em torno da ex-presidente Dilma Rousseff na internet foi relacionada ao destino de seu cão Nego. De um lado, as pessoas condenavam ela por ter abandonado o cão e, depois, de “assassinar” o animal. Por outro, defensores dela apontavam que, primeiro, ela havia levado o cachorro e, depois, que havia deixado com amigos.

Dilma mandou sacrificar Nego, o cão de estimação, diz boato
História do sacrifício de Nego, animal de Dilma, gerou polêmica na web

A história começou logo após a aprovação do impeachment quando a mídia começou a fazer matérias sobre o que Dilma levaria para Porto Alegre. Um dos itens que recebeu mais informações da mídia foram os animais de estimação. E aí começaram as contradições em relação ao que aconteceria com um deles: o labrador Nego, famoso por ter participado da campanha eleitoral de 2010 junto à então candidata Dilma.

A Revista Época apontava que Dilma iria levar o cachorro, como é possível ver nesta matéria do dia 05/09/2016. Leia:

A ex-presidente Dilma Rousseff definiu o destino de seus dois cachorros de estimação. Nego, um labrador preto que lhe foi presenteado pelo petista José Dirceu, e Fafá, uma fêmea daschund encontrada perdida nas ruas de Brasília, seriam levados para o apartamento de dois quartos da ex-presidente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

A Folha de S.Paulo apontou que ela deixaria Nego em Brasília. Leia trecho da matéria, também do dia 05/09:

Contudo, ela foi recomendada por um veterinário a não submetê-lo a uma longa viagem. Com 14 anos, considerada uma idade avançada, Nego estava com a saúde frágil e tinha dificuldades para caminhar e se alimentar. A petista, contudo, não queria fazer como Dirceu e deixá-lo para seu sucessor. A solução encontrada foi entregá-lo a um dos assessores da ex-presidente que permaneceria em Brasília e demonstrou a intenção de cuidar do animal. Foi isso que a imprensa divulgou, no entanto, o Antagonista informou que a petista havia mandado sacrificar o animal.

Vídeo: é falso que Ivermectina cure dengue, Covid e câncer

O blog O Antagonista apontou que o cão seria sacrificado. Leia texto do dia 05/09:

A imprensa divulga que Dilma não vai levar para Porto Alegre o labrador Nego, herdado de Zé Dirceu em 2005. A versão é de que um assessor ficará cuidando do animal, que está com a saúde frágil. Mas O Antagonista foi informado de que a petista mandou sacrificá-lo.

Ok. Tínhamos três versões da história e inúmeros leitores pedindo um esclarecimento. Isso nos levou, na terça-feira (06), a entrar em contato com o único assessor que continuou cuidando das relações de imprensa de Dilma. Em uma ligação por volta do meio-dia e com cerca de cinco minutos, ele “esclareceu” a história.

Assim como colocamos no texto publicado no dia 06, a versão que parecia ser a correta era a da Folha de S.Paulo: a de que o cachorro ficaria com amigos e que não poderia viajar por estar com a saúde frágil. Neste momento, a assessoria errou. Não só na informação como também na “gestão de crise” em relação ao assunto.

Neste momento, permito-me dar uma opinião: como dono de um animal de estimação, eu não optaria pela eutanásia salvo a hipótese do animal causar problemas de saúde a outros animais ou pessoas (o que não era o caso de Nego). Porém, a escolha de “sacrificar um animal que estava sofrendo” não é inaceitável na sociedade atual. E aí não sabemos se a assessoria não sabia o que havia acontecido com Nego ou resolveu dar uma resposta evasiva achando que o assunto tão logo seria encerrado.

Com a “informação oficial”, a matéria foi publicada no Boatos.org e teve grande circulação (talvez nem a assessoria de Dilma imaginasse que o que eles falariam para o blog circulariam tanto). E o assunto começou a render.

O segundo estopim sobre o assunto se deu na quinta-feira (08). A coluna Painel, da Folha, contradisse a matéria anterior do jornal e apontou que o cão havia sido sacrificado. Leia:

Teve de partir O cachorro de Dilma Rousseff, herança do ex-ministro José Dirceu, não foi abandonado. “Nego” tinha problemas de saúde e já não conseguia andar. Precisou ser sacrificado na semana do impeachment.

No dia seguinte, o colunista Cláudio Humberto foi mais direto ao ataque a Dilma. Foi aí que as coisas começaram a sair do controle:

A pergunta não se calava em Brasília desde a partida da ex-presidente Dilma Rousseff para Porto Alegre: “Cadê ‘Nego’?” Era referência ao cão da raça labrador que ela ganhou do ex-ministro José Dirceu ao assumir a Casa Civil no governo Lula. Nesta sexta (9), a assessoria de Dilma confirmou: “Nego” foi morto (ou “sacrificado”), por opção da ex-presidente cassada, sob a alegação que estava “muito velho e doente”. A informação é do colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder. O clima dos funcionários do Palácio Alvorada é de consternação e revolta, com a morte de “Nego” com cinco injeções. Afeiçoados ao dócil labrador, funcionários do Alvorada afirmam que “Nego” tinha condições de sobrevida digna, até sua morte natural. Esperava-se no Alvorada que Dilma levasse “Nego” com ela para Porto Alegre, mas isso teria sido desaconselhado pelo veterinário. Ao ordenar o “sacrifício” de “Nego”, Dilma só fez piorar a sua imagem já muito negativa junto aos funcionários do Alvorada.

Logo que tivemos acesso à história e ao trecho que “a assessoria confirmou”, corremos ao telefone e tentamos falar com a assessoria da ex-presidente. Não foram poucas as vezes que o telefone só tocava e, na segunda tentativa, era desligado na “nossa cara”. Passamos o fim de semana sem poder apurar a versão de Cláudio Humberto (que por sinal, já deu algumas escorregadas em informações).

Quando até “defensores” de Dilma como o Diário do Centro do Mundo já estavam apontando que a história do sacrifício era falsa, a equipe da ex-presidente resolveu se mexer. Quando entramos em contato, mais uma vez, na segunda-feira (12), foi nos informado que uma nota estava pronta. Publicada no site de Dilma, ela dizia totalmente o contrário do que havia sido falado na semana passada. Leia:

A respeito das notas publicadas pela imprensa sobre a morte do cachorro Nego, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff esclarece:

1. Não procede a informação de que Dilma Rousseff tenha “abandonado” o labrador Nego, que ganhou de José Dirceu em 2005. Ao lado dos outros cães de estimação da ex-presidenta – todos adotados: os labradores Boni, Galego e Princesa, além da cadelinha Fafá –, Nego foi amado por Dilma e sua família desde que passou a viver com ela em Brasília, nos tempos em que era ministra-chefe da Casa Civil.

2. Animal de grande porte, com quase 1,70m, Nego tinha três anos de idade quando passou a viver com Dilma. Aos 14 anos, desde dezembro de 2015, vinha sofrendo. Além da idade avançada, foi diagnosticado pelo veterinário como portador de mielopatia degenerativa canina.

3. Sob cuidados e orientação do médico-veterinário, Dilma prolongou ao máximo que pode o conforto e as necessidades de Nego. Há dois meses, o médico recomendou que fosse abreviado o sofrimento do cão, um dos prediletos de Dilma. Relutante, ela adiou a decisão até pouco antes de deixar o Palácio da Alvorada, na semana passada, e mudar-se para Porto Alegre.

4. Dilma sempre teve amor por animais de estimação. Adotou Fafá quando percorria as ruas de Brasília em uma caminhada e encontrou a cadelinha abandonada no Lago Sul. A acolheu e passou a cuidar dela com amor, atenção e carinho. Fafá permanece com uma das tias da ex-presidenta, que a levou para Belo Horizonte, onde vai ficar até que Dilma a transfira para Porto Alegre, em novembro.

5. Já a labradora Princesa está com o ex-marido de Dilma, o advogado Carlos Araújo, em Porto Alegre. Quanto aos outros cães – os labradores Boni e Galego – Dilma optou por deixá-los com amigos que vivem em Brasília, porque não havia como levar os dois para morar no apartamento que tem em Porto Alegre.

Ou seja, tardiamente, a assessoria deu uma resposta sobre o assunto. A falta de clareza sobre o destino dos cães não só acarretou em ruídos de informação (como a do próprio Boatos.org, da Folha, da Época) como também foi combustível para comentários sobre a personalidade de Dilma. Se desde o começo a história estivesse clara, a imagem de “cruel e implacável” ou de “que odeia e usa animais” não ganharia tanta força.

Resumindo: Nego foi sacrificado e sentimos na pele a ineficiência (que assim como metade da mídia, errou) de Dilma na “batalha da comunicação”. Se isso aconteceu com um caso “simples” como esse, o que podemos dizer sobre a forma que ela se defende de outras acusações ditas “mais sérias”.