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Concessão do Aquífero Guarani para Coca-Cola e Nestlé é negociada pelo governo #boato

Boato – O governo de Michel Temer está negociando com a Coca-Cola e com a Nestlé a concessão do Aquífero Guarani. O desejo é privatizar a água do país.

O ano era 2016. Na época, um boato muito antigo voltou a circular na internet: o governo privatizaria o Aquífero Guarani. Como era de se esperar, o Boatos.org fez o trabalho de fact-checking e apurou que a informação não procedia. Na mesma época, o editor de um dos sites que publicou a “bomba” ameaçou o Boatos.org de processo “por calúnia”. Mais do que isso, fez ofensas públicas a nossa repórter.

Passados quase dois anos do ocorrido, quase nada mudou: o processo não apareceu (apesar de estarmos prontos para um pedido de reconvenção, se for o caso) e nada foi publicado em fontes confiáveis sobre a privatização. Só uma coisa se modificou: o boato. Em 2018, uma nova história sobre o Aquífero Guarani voltou a circular online.

O que era “privatização” virou “concessão” (talvez até porque mostramos o quão inviável seria o vender) e o Aquífero Guarani “ganhou” compradores: a Coca-Cola e Nestlé. Mais do que isso: foi criada uma petição para “impedir a concessão do Aquífero Guarani para a Coca-Cola/Nestlé”. Leia texto que circula online:

Vídeo: é falso que assalto foi realizado com camiseta no retrovisor de carro

Petição a todo mundo, porém mais intensamente ao Brasil, à América do Sul : Ajudar a impedir a concessão do Aquífero Guarani à coca cola/nestlé. É importante porque água é fundamental à vida; não pode e não deve ser tratada como “bem natural rentável”, muito menos pode ser entregue para o controle de uma empresa para gerar lucro. É um bem necessário à vida de todos da nação e até mais.

Governo negocia concessão do Aquífero Guarani para Coca-Cola e Nestlé?

A “nova versão” da história que fala em concessão do Aquífero Guarani para a Coca-Cola e para Nestlé tem se espalhado muito na internet, principalmente no formato da petição. Mas será mesmo que essa história é real? A resposta é não. Para você entender tudo, vamos aos fatos.

A primeira parte da história já foi desmentida em 2016, mas vamos relembrar aqui. 1) O Aquífero Guarani (maior reserva de água doce do mundo) abrange Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil. Qualquer ação “geral” passaria por todos países. Sabe quantas movimentações sobre o assunto já foram vistas? Nenhuma!

2) No Brasil, a gestão das águas é estadual. Qualquer ação do governo demandaria uma PEC. Vocês acham que governo tinham ou tem condição de aprovar uma PEC assim? Não só não tem condição como nada foi ventilado entre 2016 e 2018 (com exceção das fake news). Vale dizer que não há qualquer movimentação conhecida nos estados para passar o Aquífero Guarani para a Coca-Cola ou Nestlé.

De lá para cá, temos mais alguns fatores que derrubam a versão que aponta que Nestlé e Coca-Cola estão interessadas no Aquífero Guarani: as supostas “interessadas” deixaram claro que, na realidade, não têm interesse no Aquífero Guarani.

Por meio do site oficial, a Nestlé publicou uma resposta obtida por meio do “fale conosco” da empresa: “A Nestlé tem interesse em privatizar a água do Aquífero Guarani? A Nestlé não tem nenhum interesse em privatizar a retirada de água do Aquífero Guarani. A empresa não fez contato nem discutiu o assunto com o governo brasileiro”.

A Coca-Cola também se manifestou: “O governo brasileiro vai vender o Aquífero Guarani para a Coca-Cola Brasil? A Coca-Cola Brasil não está negociando com o governo federal a concessão de exploração do Aquífero Guarani. Como uma empresa de bebidas, vemos a água como uma riqueza fundamental para a vida e o avanço saudável de ecossistemas, comunidades, negócios, agricultura e comércio. Sempre estaremos caminhando na direção de contribuir para o bem-estar de toda a sociedade”.

Resumindo: a história que aponta que o governo brasileiro vai vender ou fazer uma concessão do Aquífero Guarani para a Nestlé e para a Coca-Cola é falsa. Além da história só circular por sites não confiáveis e/ou de oposição, as empresas não parecem muito interessadas na reserva natural e, mesmo se tivessem, a “venda” não seria tão simples como muitos imaginam.

PS: durante a nossa apuração para a matéria, procuramos responsáveis da Avaaz para ouvir um posicionamento sobre o assunto. Ao saber que se tratava de uma notícia falsa, os administradores mudaram a informação (que havia sido publicada por uma que pessoa que não representa o site) com um alerta de fake news e nos responderam. Leia resposta.

A petição foi criada em nosso site de petições da comunidade por uma pessoa que não representa a Avaaz. Nós retiramos a petição do ar mas mantivemos o link online com um aviso de que se tratava de fake news, incluindo os links que você nos enviou para que as pessoas que ainda tenham acesso ao link possam se informar sobre o assunto. Também iremos identificar todas as pessoas que assinaram a petição para informá-las de que tratava-se de uma petição baseada em uma notícia falsa. Muito obrigada por chamar nossa atenção para essa petição da comunidade, nós admiramos muito seu esforço para combater as Fake News no Brasil.

PS II: quando desmentimos em 2016 o mesmo boato, muita pressão foi feita para que retirássemos o desmentido do ar. Para quem tenta nos intimidar, um recado: quando sabemos que estamos certos, não há pressão que nos faça apagar um conteúdo. O nosso papel é informar a verdade e nada nos fará parar 😉

Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.